quinta-feira, 20 de dezembro de 2012



Jurei mentiras e sigo sozinho, assumo os pecados
Os ventos do norte não movem moinhos
E o que me resta é só um gemido
Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos,
Meu sangue latino, minha alma cativa

Rompi tratados, traí os ritos
Quebrei a lança, lancei no espaço
Um grito, um desabafo

E o que me importa é não estar vencido
Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos,
Meu sangue latino, minha alma cativa.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012


When you try your best, but you don't succeed,
When you get what you want, but not what you need,
When you feel so tired, but you can't sleep
Stuck in reverse...


... But if you never try, you'll never know
Just what you're worth.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012



Cabeça vazia, oficina do diálogo. 
Seria preciso calar o pensamento para poder ouvir o outro e a mim mesma. Esvaziar, para depois preencher a cabeça de forma organizada, ordenada. 
Eu não estou num bom momento para esse esforço de comunicação. Não consigo ser clara e tudo o que eu falo parece sem sentido e incompreensível. Isso acontece porque, para mim mesma, as “coisas” estão ainda difíceis de serem nomeadas. A confusão do que eu sinto me parece não caber no campo da linguagem. Preciso antes me entender para me fazer entender pelos outros. Sinto raiva e vergonha de todo o blablabla, ficando perdida nos excessos da linguagem falada. 
É por isso que escrevo, para dar contorno ao que sinto, e para sentir o que falo, pois muitas vezes pareço estar apenas respondendo a uma programação. Dar contorno é também dar um limite, uma barreira ao sofrimento. 
Escrevo não pela mera poesia, mas porque tenho esperanças de encontrar nas entrelinhas alguma resposta. Poesia deriva de “poiesis”, palavra grega que sugere criação, produção de algo novo, um trazer à luz, desocultação. Assim, escrevendo, talvez eu tenha alguma luz. Quando tenho essa luz, sei que algo se modifica. Pode parecer que penso demais para me proteger e permanecer no mesmo lugar, enquanto, na verdade, tudo isso é uma busca desesperada e sem rumo por encontrar algo que me transforme.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012




"A preocupação das pessoas, quando lutam por livrar-se de algo, é completamente absorvida pelo 'de que' elas querem se libertar. Na hora em que finalmente encontram a liberdade descobrem que, na luta por ela, apaixonaram-se de uma maneira perversa por aquilo que impedia a própria liberdade. A palavra perversa é usada aqui no sentido de 'pelo avesso', ou seja, as pessoas se apaixonam pelo avesso, pelas suas dificuldades. Assim, no momento em que se vêem livres delas, em vez de se sentirem realizadas e felizes, percebem que a liberdade é fundamentalmente abandono, pois, livres de todo impedimento, estão mais do que nunca sozinhas, desligadas de todas as coisas e lançadas numa situação na qual se sentem livres para coisa alguma. 
A mesma dimensão do abandono que nos deixa, de repente, jogados no meio das coisas, deixa-nos livres para a dedicação a algo. A liberdade é condição fundamental para que possamos nos dedicar àquilo que pretendemos. Mas mesmo esse lado positivo da liberdade, ou seja, poder dedicar-se a um sentido, também pode ser incômodo, porque o sentido às vezes não está claro ou parece inatingível. A dificuldade, outras vezes, provém do quanto de compromisso e trabalho a pessoa sente que precisará ter para se dedicar ao sentido."

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012




Hoje eu não tenho nada de novo.
Nada, de novo...
Nenhuma reclamação, nenhuma lamentação, nenhuma escoriação. 
Tudo é velho, conhecido, enjoativo... 
Mas a cara emburrada condena: há algo errado!
A assiduidade de mim em mim me cansa. 
Estou presente, constante, mas ainda não me encontro aqui.
A vida foi um grande desperdício, penso. 
Tudo o que fiz, o que vivi, o tempo e o dinheiro gastos... tudo desprovido de sentido e propósitos. 
Um desperdício incalculável, em série, e que ainda não terminou. 

sábado, 1 de dezembro de 2012


Como yo quería morir un poco... 
La vida podría ser un día si y un día no... 
Y te equivocas si crees que me puedes entender. 


No pierdas tu tiempo. 

"La vida es como una máquina 
que anda y hace ruido,
y al final todo se apaga.
No me asusta a mí la muerte, 
que la muerte viene sola 
y al final nada se siente."
(Manuel Santos Martínez)

quarta-feira, 28 de novembro de 2012


E não pára de tentar arrancar com as unhas alguma boa ideia 
e agarrar nas pontas dos dedos uma solução razoável.
Mas a cabeça veio tão vazia quanto o resto. 
Mero defeito de fábrica.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012


Acostumei a subverter a lógica das coisas... funciono sob regras individuais e não universais.
Sem perceber, me agarro forte a um sintoma porque, se deixá-lo ir, tenho medo do que pode vir depois... Aqui se instalou um parasita com o qual já aprendi a lidar, a negociar, a conseguir certos momentos de trégua. O "além disso" talvez não me interesse tanto. Vou postergando esse encontro por medo de encontrar algo pior, ou simplesmente, encontrar o nada. E sigo assim desde sempre, adiando o tête-à-tête com a falta, com o vazio de tudo e de sentido. 
Como é primitiva essa estratégia inconsciente para lidar com questões difíceis, inelaboráveis... 
Primitiva, imatura essa minha condição psíquica que me prende num covil pútrido para simplesmente evitar o contato com algo de mim ainda mais pútrido. 
E não evita sofrimento, tudo dói de um jeito diferente desde então... Se eu sorri em algum momento, eu sorri um sorriso etílico, eu fingi o tempo todo, e não havia ninguém ali que se importasse minimamente a ponto de perceber a mentira e o vazio em mim.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Alegrías!


Porque sé muy bien lo que vale un segundo
porque sé también que se va la pasión
La vida se va con los regalos de los cumpleaños
y sólo quedan los que nos amaron
porque se pierde lo que no se da.

sábado, 13 de outubro de 2012

22 à vista!


Quando criança, 
odiava azeitonas, e outras coisas verdes. Adorava chocolate, café e tinha uma quedinha especial por pimenta.
Passava horas desenhando, colorindo, escrevendo poesia e procurando palavras novas no dicionário.
Jogava o dente caído no telhado, atormentava a avó na companhia dos primos e enlouquecia a vizinhança com todo o barulho, tomava banho de mangueira no calor, rabiscava a parede da casa, enterrava objetos pelo quintal e depois não lembrava mais onde tinha enterrado o tesouro...
Não gostava muito de subir em árvores, nunca arriscou grandes alturas.
Também não a agradava certas brincadeiras de correr, de esconder... o medo de ser pega causava a ela uma grande ansiedade. Além disso, tinha medo de cair.
Quando aprendeu a andar, morria de medo de subir escadas. Demorou pra que fizesse isso sozinha. 
Quando cresceu, pegou mania de contar os degraus, um a um. 
Descia as escadas saltando os ímpares e saltava os pares na subida.
Morria de vergonha dos outros e vivia escondendo a cara redonda e rosada por trás do vestido da mãe.
Todo mês de maio se vestia de anjo, encaixava nas costas uma asa, colocava pétalas de rosas numa cestinha e ia "toda toda" coroar nossa senhora, se sentindo quase um anjo de verdade! Só pecava pelo trabalho que dava para a pobre da mãe.
Cantava alto na coroação. Cantava nas missas de domingo, regularmente. Cantava no chuveiro, no quarto, pela casa a fora, cantava, cantava, cantava...
Ia na casa paroquial pedir resto de hóstia pra brincar de comungar. 
Juntava com a molecada nos arredores da igreja. Brincavam antes e depois da catequese, até o padre ou a doninha que ajudava na igreja irem lá espantar a barulhada. 
Cresceu e se afastou tanto da igreja, criou uma religião própria, acredita no que acredita e não mais no que é convencida a acreditar. 
Mas ainda não come carne nas sextas-feiras santas, não anda de costas e muito menos seria capaz de deixar virado o chinelo que faz mãe morrer. Também evita passar debaixo das escadas e não simpatiza com os gatos pretos, mas nunca se considerou uma pessoa supersticiosa, se diz precavida e ainda fala que é melhor ser precavida para que não perca a vida.
A cor predileta era rosa.
Mocinha, 
andava segurando a barra da saia na ponta dos dedos, pisava cada pedra com cuidado e pulava aquelas que eram mais pontudas.
Gostava de escrever no corpo inteiro com canetas coloridas.
Gostava de pintar a cara e fingir que era princesa. Mordia maçãs esperando que algo acontecesse. Nunca foi possível saber se esperava a morte ou a vinda do príncipe depois de morder a maçã...
Gostava de ouvir o barulho das folhas secas sendo pisadas. 
Gostava de ouvir o barulho das gotas de chuva caindo no telhado, gostava de sair na chuva e às vezes se encharcava e tinha que andar pela casa na ponta dos pés.
Também fazia isso de madrugada, nas fugidas ou quando chegava de festa.
Também ficava na ponta dos pés para parecer mais alta nas fotografias.
Gostava bem dessa ousadia do corpo, na ponta dos pés tinha a sensação de estar sempre prestes a pular, ou a cair. 
Gostava bem desses riscos bobos...
Fazia todas as operações matemáticas com as placas dos carros e contava placas de trânsito durante as viagens. 
Parecia que estava sempre esperando alguém...
Ficava parada, por um longo tempo, na frente do relógio, acompanhando o movimento do ponteiro, hipnotizada pelo tique-taque que vez ou outra a fazia lembrar de alguma música.
Ficava horas encostada nas janelas, olhando para fora, procurando lá fora o que talvez encontraria dentro.
Ficava absorta na frente da porta olhando a rua, ou olhando o nada, reparando cada detalhe da roupa de quem passava, cada detalhe do cabelo, da pele, do jeito de andar... mas se a perguntassem, certamente nem saberia quem passou. 
Era distraída mas sabia das coisas. Gostava de perguntar e questionar quase tudo que ouvia e julgava importante. Gostava de pensar sobre questões existenciais, passou a achar a sua vida um grande mistério, não mais um milagre. 
A cor preferida passou a ser lilás. 
Mulher,
Ainda não tem respostas pra grande maioria das perguntas que se fazia e coleciona milhões de perguntas novas. 
Ainda tem medo de cair.
Ainda morde maçãs esperando que algo aconteça. 
Ainda não sabe o que tanto espera.
Segue odiando azeitonas e amando chocolate, pimenta e café.
E já não sabe mais qual é a cor favorita. 
É que a gente muda o tempo inteiro, mas o tempo não muda a gente inteiramente.
I wish you'd never forget the look on my face when we first met


All I know is that you're so nice
You're the nicest thing I've seen



Basically, I wish that you loved me

quinta-feira, 4 de outubro de 2012


Que tristeza das "coisas" que perdi e não posso recuperar... 
Que ódio do tempo que leva tudo embora, que muda tudo... 
Mas que ingrata eu, que maldigo o tempo enquanto o que ele faz é apenas tentar consertar as burradas que a gente comete. 
Tempo que amarela a cor do papel mas recobre de branco e enche de paz o que nele será escrito. 
Tempo que envelhece o rosto do espelho mas o faz refletir sorrisos outra vez. 
Tempo que enruga a pele mas a deixa com um perfume sempre novo e agradável. 
Tempo que resseca os lábios mas não resseca a alma, e desses lábios escapam outra vez doces e úmidas palavras. 
Tempo que estraga a fotografia mas nos deixa guardar só as boas lembranças.
Tempo que renova, recicla, que leva embora em boa hora e traz de volta, nem cedo, nem tarde, mas "a tempo". A tempo de enxergar ganhos nas perdas. Entender que é preciso deixar o tempo agir, se infiltrar em cada coisa, em cada espaço, em cada poro... e assim o tempo transforma tudo. Entender que nada foi perdido e que o novo é só o velho um pouco diferente, e veio se somar às lembranças do que passou. 
Aprendi com Lewis Carroll a importância do tempo, a importância em respeitá-lo. Aprendi que só se transpõe uma porta se for do seu tamanho e que crescer fora do tempo pode ser complicado, que cada coisa exige um tamanho certo, uma hora certa. 
Cada coisa tem sua vez. 

quarta-feira, 3 de outubro de 2012



Juliette Binoche em "A Liberdade é Azul" - kieslowski

Não lembro bem em qual livro, acho que foi em "Quando Nietzsche Chorou", eu li e gravei a seguinte frase: "A vida é uma centelha entre dois vácuos idênticos: a escuridão antes do nascimento e aquela após a morte."
A cada dia tenho pensado mais nesses dois vácuos, mais no segundo... e sinceramente, tenho chegado perto de concluir que a vida não passa de um terceiro vácuo, o vácuo do meio. 
E nós, os corpos, atuamos no vácuo como os analgésicos atuam no corpo... A vida é tão medíocre às vezes. As pessoas tão cheias de defeitos, tão vazias de decência, igualmente medíocres. 
Aos poucos vou parando de sentir aquilo que doía, ardia, incomodava.
Seria um sonho se simplesmente eu não pudesse sentir, nem que eu quisesse muito. 
Eu me esforço, mas as sensações explodem dentro de mim e ressoam em gritos e atos contra meu próprio corpo. Quando vejo já o fiz, já me joguei na sensação e no desejo de matar o que eu nem sabia que era vivo.
Essa estranha forma de negar a existência. A revolta por ter que existir e lidar com cada pequena frustração, com a percepção de uma realidade destorcida para pior. Ou uma realidade vista da maneira correta mas que deveria passar despercebida, anestesiada, a realidade que diz respeito à insignificância de cada coisa, de cada palavra, de cada ato, de cada sentimento, de cada afeto, de cada vida.
A vontade de vomitar cada sílaba de palavras vãs que ouvi, cada estupidez que ouvi, vi ou vivi. 
Desejo intenso de esmurrar as paredes para aliviar essa pressão no meu corpo ou arrancar com a unha cada centímetro da minha carne que dói, porque dói aqui, na carne viva e vermelha!
O vazio em cada átomo, em cada mínimo fragmento de matéria, da matéria que forma o meu corpo e é só corpo, nada além. Vazio, vazio, vazios de gente, vazios de sentimentos reais, tudo é líquido demais, evapora. Mas diz Marx que tudo que é sólido desmancha no ar. 
Então o ar é o que resta, inspiro e encho meus pulmões com esse ar que é dono de tudo e onde tudo se encerra. O ar me sufoca. 
Sozinha, completamente sozinha, olho para um mundo cuja decomposição escorre diante dos meus olhos. Lágrimas. 
Encontro-me, a esmo, habitando o inóspito, fora e dentro de mim. 


quarta-feira, 26 de setembro de 2012


Foto: Brooke Shaden

“... um egoísmo forte constitui uma proteção contra o adoecer, mas num último recurso devemos começar a amar afim de não adoecermos, e estamos destinados a cair doentes se, em conseqüência da frustração, formos incapazes de amar”. (FREUD, 1914)

Há muito o que dizer e interpretar sobre o amor. 
Lacan disse que "amar é dar o que não se tem". 
Eu dôo ao outro uma energia que não tenho, que não recebo. E espero do outro um investimento igual ou maior.
Então não entendo, fico pensando que não é possível dar valor a uma outra pessoa sem valorizar a nós mesmas... Pelo menos deveria ser assim. Se, em vez de doarmos tudo o que temos e o que nem temos, nós nos  resguardássemos de um pouco dessa energia, um pouco de amor, não ficaríamos tão vazios...
Às vezes nos assemelhamos a uma rosa sem perfume, porque deixamos todo o perfume na mão daquela pessoa que nos arrancou da terra.

Mais um pouco e eu começo a entender que tudo se passa no registro da necessidade. A estruturação do sujeito implica ultrapassar o registro da necessidade para o do desejo. O grito e o choro, inicialmente, expressão de insatisfação e desconforto, tornam-se apelo, demanda de outra coisa.
Amar é dar o que não se tem porque, afinal, o amante é aquele que, sentindo que algo lhe falta, mesmo sem saber o que seja, supõe em outro, o amado, algo que o completaria. O amado, por sua vez, sentindo-se escolhido, supõe que tem algo a dar, sem saber bem o quê. Mas, como o amado é também um ser  faltante, algo também lhe falta, como ao amante. Assim, o que ambos têm a dar é um nada, um vazio.

Poupando-me das referências, afinal isso não é um artigo, foi Miller quem disse que amar é confessar a falta. E o amor se sustenta pelo suposto saber, pela esperança de que o outro nos revele o que a gente é. 
Caminho em direção a um amor entendido como identificação, um amor que na sua vertente imaginária é narcísico, espelhamento da imagem de si mesmo no outro. 
No amor narcísico, a libido não reflui para os objetos, ela se encontra fixada na própria imagem idealizada, chamada de eu ideal. 
Enfim, "entendo" o porquê de tanta doação, e os motivos que tornam a perda algo tão aterrorizante. A ameaça de perda põe em risco a própria vida, porque o efeito do investimento libidinal no outro é maciço. 
O mortífero é desconhecer que ama a si mesmo no outro, que se crê ser seu objeto de amor, sua própria imagem.

Não gosto dos contornos que sou levada a dar ao amor, essas interpretações violam a beleza e pureza do sentimento.  
Prefiro Shakespeare, Camões e canções... 


Voltando ao amor que se sustenta pelo suposto saber, pela esperança de que o outro nos revele o que a gente é, sabemos a importância do amor de Transferência para um bom caminhar de uma análise. 
Colocamos na figura do analista um suposto saber sobre nós. Repetimos relações estereotipadas através da transferência, nos identificamos e esperamos que o outro nos revele algo sobre nós mesmos, que ainda desconhecemos. 
Mas a função do suposto saber transpassa os limites da transferência analítica e recai sobre todas as relações, amorosas, de amizade, de trabalho... 
É extremamente necessário que eu dote de um saber aqueles com quem me relaciono.
Qualquer relação só se sustenta se houver admiração, e a admiração nasce do ideal que fazemos do outro, nasce do saber que supomos haver no outro. Toda relação leva um pouco de idealização. 
Por isso é tão importante que as pessoas saibam que, quando você perde o respeito por alguém, não o recupera nunca mais. A admiração também se vai. 

É contando com esse suposto saber que ainda nos restam algumas noções como hierarquia, autoridade... noções extremamente necessárias na escola e no trabalho, por exemplo.
E nós, meros mortais de conhecimento limitado, criamos a nossa imagem de forma que o outro, lá de fora, veja o que nós mesmos não vemos, nos credite um saber e acredite nesse saber do qual nós mesmos, inúmeras vezes, duvidamos. 
E a dúvida, meu amigo, é a pior das mazelas psíquicas, porque ela te faz hesitar. Ela te faz sentir vergonha e ter medo da reprovação e do escárnio. 
Espero ter convencido a, pelo menos, meia dúzia de gente que leu isso aqui, essa explanação de todo o meu saber!





http://www.psicanaliseemcurso.com.br/artigo_7.asp
http://www.dombosco.com.br/faculdade/revista_2ed/jun08_artigo01.php


terça-feira, 25 de setembro de 2012

Si me ves un día, la mirada perdida
y la locura en el semblante

apiádate de mí, no me maldigas
porque las penas van prendías
ay, al fleco del aire.
Si me ves un día, mirando al cielo
suplicando a Dios
apiádate de mí, no me maldigas
que los tormentos respiran
ay por los rayos del sol.

- Camarón de la Isla

Now you're just somebody that I used to know

Now and then I think of when we were together
Like when you said you felt so happy you could die
Told myself that you were right for me
But felt so lonely in your company
But that was love and it's an ache I still remember


You can get addicted to a certain kind of sadness
Like resignation to the end, always the end
So when we found that we could not make sense
Well you said that we would still be friends
But I'll admit that I was glad that it was over





Now and then I think of all the times you screwed me over
But had me believing it was always something that I'd done


And I don't wanna live that way
Reading into every word you say

But you didn't have to cut me off
Make out like it never happened
And that we were nothing
And I don't even need your love




domingo, 16 de setembro de 2012



Da minha janela
pela fresta
eu vejo até o que não presta.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012



                            Parque Municipal - BH - 09/06/12

Ontem uma pessoa muito bacana me perguntou se eu sou sensível. Eu, não sabendo responder, fiquei inclusive desajeitada com a pergunta. Então ela me disse que eu parecia ser muito sensível e eternamente romântica...
Sim, acho que a resposta é sim. Mas é preciso ser ainda mais sensível para perceber a sensibilidade do outro, a grande maioria das pessoas estão ocupadas demais, distraídas demais, indiferentes demais com o próximo. 
É incrível como quase não se vê cuidado entre as pessoas, carinho, atenção... cuidado com os sentimentos do outro... 
As pessoas não se importam mais se vão ferir, magoar... elas simplesmente agem pensando no próprio bem-estar. 
A palavra "amizade" tem perdido seu sentido. E evita-se usar a palavra "amor", porque causa vergonha... ou medo.
Sensibilidade demais soa como loucura, deve-se medicar pra não sentir, pra não sofrer...
Certa vez me disseram, e desde então, sempre que posso eu digo: Ser sensível não é pecado, não é doença. É só um estado de espírito que acomete pessoas especiais... só pessoas especiais! 

quinta-feira, 6 de setembro de 2012


Eu sou o tipo de pessoa que colhe flores com os ouvidos. 
Há quem exale o perfume das flores pela pele.
De cuja boca caem as pétalas mais perfumadas.
Dos olhos se extrai o mel.
A doçura do ser é dita pelo olhar.

Quando o outro fala comigo eu me sinto feliz, porque é, de certa forma, um investimento que é feito em mim. 
E eu, além de ouvir, tentar entender e ajudar, também me identifico com o que o outro fala, me apego a pontos que vão servindo para mim, vou reorganizando coisas aqui dentro. 
Quando ouvimos o outro, sempre bebemos daquelas palavras que melhor nos nutrem. 
Tomamos para nós aquilo que nos desperta, acrescenta, e talvez, somente naquilo é que vamos nos atentar. 
Nós somos narcisistas nesse aspecto, todos nós agimos assim.
Todo afeto tem sua parcela de narcisismo, não conseguimos nunca nos livrar de uma porção narcísica primordial, que é a primeira forma de afeto que conhecemos. 
Mas isso não quer dizer que não possamos reconhecer a alteridade e investir afeto no outro como outro, mesmo com ganhos secundários. 

Gosto de ouvir as pessoas, tão mais que falar. 
Mas, pensando o que acabo de dizer, não falar seria um ato de egoísmo, muito maior que não ouvir. 
Quando eu falo eu faço uma doação.
Uma doação para que o outro se deleite com o que eu digo dessa mesma forma narcísica.
Mais narcisista ainda seria se eu apenas ouvisse.

Encontrei uma dessas pessoas que cultivam jardins em sua alma. 
Uma pessoa com quem entendi o significado de vários afetos e de vários significantes, como parceria, amizade, amor, lealdade...
Junto a quem aprendi que Diálogo não é uma disputa de egos, de atenção, de quem tem mais a dizer, a lamentar, como muitas vezes me pareceu. E muito menos devo me sentir culpada se por acaso falar demais sobre mim e ouvir de menos. 
Aprendi porque mantive os ouvidos bem abertos, mas, principalmente, o coração aberto.
Um diálogo verdadeiro é um bom encontro, uma relação de troca, de dar e receber. É um fluxo, onde há reconhecimento, identificação e modificação. 

Para minha querida N.N.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

                                                                  Foto: Francesca Jane
Tudo tão errado que me faz pensar que estou certa.

Tudo tão verdade que eu até duvido.
Tudo tão claro que eu nem consigo ver.
Tudo tão intenso que me anestesia.

Tudo tão sem graça que parece até piada.
Tudo tão cheio de tudo que não me resta mais nada.



"Everyday I fight a war against the mirror
I can't take the person staring back at me

I'm a hazard to myself
Don't let me get me
I'm my own worst enemy
It's bad when you annoy yourself,
So irritating
Don't wanna be my friend no more
I wanna be somebody else

I wanna be somebody else

So doctor, doctor -- won't you please prescribe me something?"

Pink - Don't Let me Get me.

Love Love Love



sábado, 1 de setembro de 2012


                                                                       Foto: Brooke Shaden
Outra vez revirando coisas antigas.
Escritos, cadernos, fotos, lembranças...
Acho que estou tentando (re)encontrar meus sonhos...
tenho me perguntado onde eles foram parar.
Não me refiro a esse sonho que alguns mais bem-aventurados têm todas as noites.
Esses, já os perdi há tempos, desde que rompi o pacto de amizade com Morpheu.
Estou falando de um outro tipo de sonho, aqueles que exigem de nós algo mais que deitar numa cama e fechar os olhos. Aqueles que suplicam por nossa fé e investimento, que demandam ação e determinação, para não sucumbirem. 
Este sonho está perdido, deslocado. Ou morto. 
Procurei por horas registros de uma época em que esses sonhos existiram e foram bem vívidos. Encontrei alguns poemas anotados nos cantos dos cadernos, onde eu escrevia sensações e sentimentos, por medo de esquecê-los, esquecer quem eu era. Eu tinha que lembrar todo dia quem era eu, por quê eu vivia e o quê significava a minha existência. Não, nunca houve um bom porquê, eu tinha que inventá-los e reinventá-los sempre.
Encontrei então um famoso poema da Cecília Meireles, que sei de cor desde bem pequena. É que desde bem pequena, talvez dos sete ou oito anos, eu tenho essa mania de ler poesia e escrever coisas em cadernos de recordações. Eu não conhecia nomes importantes da literatura, e nem que esse poema marcava a obra da Cecília Meireles, apenas li e me encantou, um monte de coisa me encantava naquela época...


Motivo
Eu canto porque o instante existe 
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias, 
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico, 
se permaneço ou me desfaço, 
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

Das poucas memórias que carrego da minha infância, está a salvo a certeza de sempre ter compreendido bem esse fim. Não só o fim do poema, mas o fim de tudo que existe e o meu próprio fim. A mudez, a cegueira, a surdez, o grande vazio da morte. 
A morte me aterrorizava, eu pensava muito nela. 
Fui crescendo e acredito que recalquei esse terror. 
Eu flertei com a morte. Eu dizia não ter medo dela, ou até desejá-la. Mas a verdade é que o terror era tão grande que eu precisava me aproximar dela e recuar, sentir seu cheiro e voltar, desafiá-la, e vencê-la. Uma disputa narcísica, egoica. 
Agora eu me posiciono humildemente diante da morte, pois sei que ela é muito maior, está muito acima de mim.
Deito o meu corpo, cansado do dia exaustivo simplesmente por ter sido mais um dia de existência. 
Resisto o quanto posso, inconsciente do que estou fazendo. 
Cedo-me ao sono, driblando o medo de não recobrar a consciência pela manhã. 
Apego-me a rituais malucos, repetitivos, para garantir que vou acordar. 
Ao mesmo tempo desejo que isso não aconteça. 
Dormir é como morrer um pouquinho. 
Recorro ao sono quando quero morrer por algum tempo. 
A morte causa essas ambivalências. Terror e desejo... remédios indutores do sono ao mesmo tempo em que o sono causa medo. Dormir para esquecer o medo de dormir, ou de morrer. 
Sempre tive muito medo de perder a consciência, o controle de mim mesma, o domínio sobre meus atos. Tanto medo me criou ciladas. Caí em todas elas, tamanha ironia da vida. 
É estranho reparar como a temática da morte sempre esteve presente, desde criança. 
É estranho reparar que ainda tenho medos infantis. 
É estranho reparar que a vida já era vazia, lá atrás. 
E eu já era indiferente, ou simplesmente não sentia. 
É estranho, e triste, perceber que, assim como Cecília Meireles não reescreveu o poema, a vida também não mudou. 
Não sou alegre nem sou triste, 
não sinto gozo nem tormento... 
Atravesso noites e dias
no vento.




Canção Excêntrica - Cecília Meireles
Ando à procura de espaço
para o desenho da vida.
Em números me embaraço
e perco sempre a medida.
Se penso encontrar saída,
em vez de abrir um compasso,
protejo-me num abraço
e gero uma despedida.

Se volto sobre meu passo,
é distância perdida.

Meu coração, coisa de aço,
começa a achar um cansaço
esta procura de espaço
para o desenho da vida.
Já por exausta e descrida
não me animo a um breve traço:
- saudosa do que não faço,
- do que faço, arrependida.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

                                                                      Foto: Lissy Elle
Caminha pela casa sem um rumo certo, vai até à geladeira, mastiga alguma coisa cujo gosto nem faz muita questão de sentir. Repete isso algumas vezes. Solta algumas frases feitas, de efeito. Balbucia qualquer coisa consigo mesma, nem mesmo ela é capaz de entender.
Ela não chorou em nenhuma das vezes que sentiu vontade de chorar. Alguma lágrima desceu sim pelo seu rosto, serpenteando-o. Eu pude ver a lágrima secando na pele, ou caindo no canto da boca, antes que pudesse chegar ao seu fim. 
Queria algo que justificasse essa lágrima estúpida, essa existência medíocre. Sentia que precisava de mais, precisava de um canto em que pudesse bater com força a cabeça, encostar a cabeça e chorar, gritar, morder os lábios, esfregar os olhos... 
Ela não chorou, e então seu coração se encheu como as chuvas de verão enchem os rios, ficou prestes a transbordar. Mas manteve-se morna, densa, seca, como fica o ar naqueles dias em que não há vento. Eu gosto quando venta.
Ela deve ter algum plano em mente. Deve estar testando o alcance de suas emoções. Deve estar calculando o quanto de dor cabe em si antes que transborde e alague, com sua dor líquida e sem forma, tudo em volta.
Ouvi ela dizer, entre um soluço e outro, que parecia bicho de outra espécie. Que se sentia semente que não germinou direito e que cuspia nas flores porque elas pareciam sempre felizes demais. Que atirava pedras nos pássaros por inveja, porque bastava que abrissem os braços para que voassem. Tinha a ilusão de que voar era como se desprender da vida. 
Ouvi ela dizer, entre um soluço e outro, que queria morrer nas entranhas de sua mãe. E que não lhe faltasse nada, não lhe falte nada. Os olhos vermelhos é choro, mãe. A porta aberta é convite, a porta fechada é recolhimento. Eu quero chorar no calor do teu seio, mãe. Eu quero que me tire daqui, desse mundo que me machuca como um fórceps machuca um bebê. A minha vontade de nunca ter saído de ti é do tamanho da força do teu ventre ao me empurrar pra fora. Aqui fora é frio, mãe. Nasci, e a consciência de estar viva me traz o medo da morte. Comecei a morrer desde então. Eu quero morrer nas suas entranhas, mãe. Os olhos vermelhos é choro e esse delírio é febre, mãe.
Ouvi ela dizer, até que a porta foi cerrada...

quinta-feira, 23 de agosto de 2012


Ontem eu ouvi de uma pessoa muito especial:
"Silêncio não é tristeza e paixão não é loucura."

Eu já não sinto vontade de falar. Já não quero falar mais nada e sei que isso é uma ânsia que me toma por dentro, para que eu transforme o impulso da palavra em ação. 
Mas o corpo não responde da mesma forma que a língua, o corpo também não responde. 
Não dói tanto ficar em silêncio quanto me dói a inércia. 
A compulsão pelo dizer tomou outra forma, ela me empurra em direção a uma busca quase insaciável. 
Buscar é sim uma palavra interessante, que define não só um momento da vida, mas todo um percurso de vida. Agora eu busco paixão. Busco algo perdido ou que ainda não conheci, mas que me movimente, inspire, me faça perder a razão e parecer louca. 
Eu quero a paixão, não por uma outra pessoa, mas por coisas com texturas diferentes, uma causa, um tema, um trabalho... há tanto amor espalhado por aí, colocado em cada coisa que existe... eu quero captar, absorver, sentir esse amor. 
Há tanto amor desperdiçado também... jogado ao vento, ao tempo, à indiferença...
Eu posso estar buscando muito longe o que vou encontrar debaixo do meu nariz, sob a minha pele, bem aqui dentro de mim. A paixão deve ser buscada aqui dentro, aqui mesmo onde também moram meus monstros, meus medos, tudo aquilo que me barra, me faz recuar. Há muito amor competindo espaço com meus monstros.

Se um dia essa tal pessoa especial, por um acaso esbarrasse nesse post, saberia que me toca com o que diz. Não é fácil encontrar pérolas em meio a tantas pedras brutas. 
Com certeza essa pessoa acharia esse monte de palavras exagerado, desmedido... e eu ficaria envergonhada, mas daria aquela mesma explicação que um dia essa pessoa escreveu em uma carta: "Tudo se resume em uma só palavra: Sensibilidade."

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Foto: Brooke Shaden                              

Não se espantem com o tema escolhido essa noite... não se espantem se, assim como eu, também não conseguirem responder muito bem ao "o que é ser mulher?" 
É realmente difícil ser mulher se a definição para isso está embasada, na sua maioria, em conceitos machistas. Ser mulher é ser frágil? É chorar nos fins de relacionamentos e em casamentos? É fazer drama e charminho pra conseguir o que quer? 
Se ser mulher depende de que eu abdique de posicionamentos firmes e posturas maduras, então nasci num corpo errado.
O feminino não tem segredos, tem mistérios. 
O feminino não se submete a explicações que não sejam metáforas.  
A alma feminina é dúbia. Mulher é como um rio, explico:  
A feminilidade é facilmente associada à passividade... o frágil, aquilo que recebe, o corpo anatomicamente desenhado para receber o falo, acolher. 
Por outro lado, esse corpo se mostra ativo no momento em que é ele que, como uma boca úmida, faminta e insaciável, engole o falo e ameaça a sua perda para sempre, despertando no masculino o terror da castração.
Pode-se dizer o mesmo das águas de um rio, passivas, que correm sem poder parar ou mudar de rumo. Mas arrastam com voracidade o que quer que caia nelas. Águas que pesam, pressionam, arrastam, envolvem, tragam... que não revelam o que circunda a margem. Perigo, perigo. Risco.
São fortes, são bravas.