quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Que assim seja, que assim venha 2012...

Tonight I'm gonna bury that horse in the ground...
So tonight I'm gonna cut it out and then restart!
Shake it out!


Regrets collect like old friends
Here to relive your darkest moments
I can see no way, I can see no way
And all of the ghouls come out to play

And every demon wants his pound of flesh
But I like to keep some things to myself
I like to keep my issues strong
It's always darkest before the dawn

And I've been a fool and I've been blind
I can never leave the past behind
I can see no way, I can see no way
I'm always dragging that horse around

And our love's pastured such a mournful sound
Tonight I'm gonna bury that horse in the ground
So I like to keep my issues strong
But it's always darkest before the dawn

Shake it out, shake it out, shake it out, shake it out, ooh woaaah
Shake it out, shake it out, shake it out, shake it out, ooh woaaaah
And it's hard to dance with a devil on your back
So shake him off, oh woah

I am done with my graceless heart
 
So tonight I'm gonna cut it out and then restart.


¿Para qué me curaste cuando estaba herido 
si hoy me dejas de nuevo el corazón partío?



"Aonde está você agora além de aqui 
dentro de mim...?"

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011


Mesmo que a fumaça faça os olhos arderem e lágrimas cairem...
Sim, é necessário queimá-la e jogar as cinzas para bem longe!
You are beautiful, no matter what they say
Words can't bring you down, oh no
You are beautiful in every single way
Yes, words can't bring you down

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

  Olá Noel, 
desculpe esta carta de última hora, mas só agora pude colocar os pensamentos em ordem e sentar aqui para te escrever. Tenho ao meu lado uma caneca de um café bem forte, para curar essa ressaca, de uma noite longa e intensa. Mas como curar esse mal-estar que esse ano, tão longo e igualmente intenso, deixou? Que sentimento estranho esse aqui, bom velhinho: sinto uma coisa que não sei se é ressaca, dor ou angústia. Coração acelerando repentinamente... pode ser o café, acho... Ou talvez tudo isso seja só esse sentimento saudosista que acomete a gente no fim de ano. Fim, né? Todo fim dói, mas toda dor também tem fim.
  Aah Noel, se soubesse como me comportei mal esse ano, nem se daria ao trabalho de ler esta carta...
2010 foi um ano tão difícil que eu só queria, desde o início,  fazer 2011 dar certo, trazer a felicidade pra perto, e pra isso eu precisava mudar algumas coisas. E mudei. Mudei de vidas, isso mesmo: vidas, no plural. É que tive muitas vidas esse ano, muitas formas de pensar uma mesma questão, muitas questões sem forma definida, diferentes ângulos pelos quais pude enxergar a mim mesma, de diferentes formas. Mas sabe, Noel, às vezes, tentando acertar, a gente erra, e consegue piorar tudo o que já estava ruim. 
  Esse ano me valeu por 3, e quase não coube em mim. Sinto agora como se eu tivesse uma vida maior que a minha... Tão jovem e um bocado de história pra não contar. E não contarei, é segredo meu, é coisa minha e de mais ninguém. 
  Ainda não sei como sobrevivi a 2011, ou subvivi... que seja. Mas, no fim das contas, eu sempre acabo aqui, escrevendo com a tinta vermelha do sangue que jorra das minhas palavras. Ano intenso, longo, difícil... Encontros e desencontros, mais perdas que ganhos, mas pelo menos aprendi coisa demais, inclusive a ficar mais atenta, mais esperta... Eu não cairei mais nas mesmas ciladas auto-impostas, pode apostar! Mas precisava mesmo ter sido desse jeito, Noel? Eu precisava mesmo ter passado por tudo isso pra agora sim estar pronta pra mudar de verdade? Aprendizagem em excesso cansa. Tanta aprendizagem assim custa caro, e eu não estaria disposta a pagar um preço tão alto se eu tivesse sido ao menos consultada. Eu não tinha condições de arcar com o custo, agora pago a prestações, com juros, por mais alguns bons anos...  Ainda fiquei me devendo algumas explicações e uma boa quantia de perdão.
  Noel, se eu merecer, faça ser diferente daqui pra frente.


"O mais profundo é a pele."
Paul Valéry

domingo, 4 de dezembro de 2011



A sanidade é o riso irônico da loucura, 
sóbria o quanto é.

domingo, 27 de novembro de 2011



Não nos comunicamos mais, seja lá qual for o caminho para isso. 
Nossos corpos não se compreendem, não falam mais a mesma língua.
Nossa língua não obedece mais o nosso desejo, não diz o que tem que dizer.
Desencontros e desencontros... estando um ao lado do outro.
Já não sei mais quando realmente devo pedir desculpas.
Nem sei quando foi que ficou tudo tão errado, tão perdido.
Tampouco sei o que fazer para mudar isso.
O silêncio, insustentável... insuportável.
Ausência física para suportar todas as outras ausências.
Tudo dói, na flor da pele.

Word has temper...

Palavra tem temperamento. 
É bom ter cuidado com elas.

Heaven help me! I need to make it right...



"You are the hole in my head
You are the space in my bed
You are the silence in between
What I thought and what I said

You are the night-time fear
You are the morning when it's clear
When it's over your start
You're my head, you're my heart"

sábado, 26 de novembro de 2011



Assim, feito Virginia Woolf... Querendo vestir meu casaco, encher os bolsos com pedras e me afogar no Rio Ouse.





"Passava como uma navalha através de tudo; e ao mesmo tempo ficava de fora, olhando. Tinha a perpétua sensação, enquanto olhava os carros, de estar fora, longe e sozinha no meio do mar; sempre sentira que era muito, muito perigoso viver, por um só dia que fosse".

segunda-feira, 21 de novembro de 2011




Escrevo porque sou escrava 
do escárnio dessa minha escrita.
É como escarrar as impurezas
desse coração descomedido e escancarado.


Hoje me disseram que,
quando alguém tá na beirada da piscina e não pula,
um outro vem e empurra. 


Eu topo dar esse salto, 
mas a água ainda tá gelada
e eu to tremendo de frio
e de medo de não dar em nada.


"É que eu não sei nadar"
disse o sapo encabulado.
"Eu até sei pular, mas nadar
eu não nado".


Mas que bicho inseguro,
parece que andou se esquecendo
que girino é peixe d'água
e sapo já nasce sabendo.

domingo, 20 de novembro de 2011



Toda dor pode virar poesia...
Posso metrificá-la, colocá-la em rimas, metáforas, metonímias...
Que seja parte pelo todo, até perder o todo de vista, 
e a dor, toda em partes, não machuque, não desgaste.
Quase toda poesia pode ser um trabalho,  
e quase todo trabalho é também poesia:
o teatro, a música, a dança, a literatura... poesia!
Meu trabalho vem de uma fonte inesgotável:
vem do sentimento, e da palavra que traduz esse sentimento em arte,
em matéria que pode deslizar na superfície desse mundo que conhecemos, o mundo do real.
A palavra é uma fonte inesgotável.
Enquanto houver sentimento vai haver palavra.
Enquanto eu viver e sentir, eu vou ter o que dizer, o que escrever, o que transformar em arte.
Enquanto eu sentir, não me faltará matéria-prima.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

ʚɞ Um tempo de presente para nós...


Estou cheia de me esforçar para estar junto, e de gastar meu tempo e minhas energias pensando em um "nós" indefinido, que nem sequer existe. 
Eu disse que eu ia até onde eu podia sustentar... talvez eu não possa mais. Ou, pelo menos, não possa mais nutrir esse amor, tão puro e tão forte, que me corta por dentro como uma lâmina afiada cada vez que esbarra na sua indiferença.
Eu poetizei toda a sua liberdade, para deixá-la bonita, admirável... aceitável. Tentei esculpi-la e dar a ela uma forma com a qual eu conseguia lidar, conceber. Mas a liberdade, que eu lapidei para amar, agora me parece corrompida pela libertinagem, e eu não a quero assim, não a aceito mais, não tem mais beleza alguma.
Eu tentei sustentar o quanto pude. Tentei não sentir ciúmes, porque me disseram que é feio senti-lo. Mas eu nunca fui alguém com os sentimentos mais nobres... 
Tentei não me incomodar, não me angustiar por não saber por onde você andava durante todo esse tempo... 
Mas não, não funciono assim! A minha máquina está programada para ser humana e sentir tudo humanamente, sentir o amor, cheio de vícios, tal como ele é. O sofrimento é desumano e todo mundo sofre humanamente. E agora sou eu quem escolhe ter todo esse tempo para andar e descobrir aonde consigo chegar. 
Ponho-me a esperar, esperar aquilo pelo que não tenho nenhuma expectativa. É apenas uma pausa na engrenagem do meu coração, uma pausa pra me recompor e recomeçar mais devagar... Preciso aprender a cuidar de mim e a proteger meus sentimentos. Necessito agora afastar-me do outro e ter um encontro comigo mesma. E por quanto tempo? De novo o tempo... nunca sei o quanto pode durar, o tempo de que preciso é impreciso. 
Por onde você andou por todo esse tempo? Esse tempo, essa distância, vai me consumindo aos pouquinhos, e a vida vai se esvaindo devagar... 
Mas esse tempo, esse tempo foi importante... foi importante pra eu ver que você não sente minha falta, não sente vontade de estar comigo, não tem saudades. Foi bom pra eu entender que não tenho importância nenhuma na sua vida, que não significo nada pra você.
Hoje é um daqueles dias que você acorda e a cabeça dói pelo excesso da noite passada. A ressaca não seria tão pior se eu não tivesse cometido tantos erros... Como pude ser tão sacana com meu coração, com meus sentimentos...? Nenhuma cama em que eu deitar vai ter o mesmo calor da sua, nenhum abraço vai ser tão acolhedor quanto o seu... Minhas mãos buscavam seu corpo, meus ouvidos queriam a sua voz... era você quem eu queria ali, você! 


Mas por onde você tem andado todo esse tempo...?

Não sei por quê Deus coloca o amor no coração de quem não sabe 
dosá-lo!

quarta-feira, 9 de novembro de 2011


Estava, e ainda está, tudo tão indefinido, tão incerto, tão inseguro... 

Eu tentei sustentar o quanto pude, fingir que não me incomodava com o formato que minha vida ia tomando...
Não, não funciono assim.
Eu não me reconheço em nada, não me vejo em nenhum papel e nem dentro de cena nenhuma, não me encontro!
Preciso me significar por alguma coisa, agora que aquela representação já se tornou insuficiente para isso. 
Como tenho gasto minhas energias para me encontrar, para me significar de alguma outra forma, por alguma outra coisa que não o "pathos"!!! 
E como tem sido difícil! 
Ajudaram-me a desconstruir a minha lógica louca, errada... Mas me abandonaram no momento de refazê-la do jeito certo, e olha só, pombas, eu preciso de uma lógica pra viver! 
Desataram os nós que eu havia feito nas minhas amarrações de significantes, já não sou aquilo que eu era antes, me perdi daquilo que eu enxergava sobre mim, e agora... agora me angustio por estar tão solta, com essa sensação de quase nem SER. 
Quem sou enquanto sujeito? Não sei mais, e tudo que faço é tentar desesperadamente fisgar os ganchos que me aparecem e que parecem me levar a um meio de me ter de volta, por outros caminhos, com outros sentidos, 
mas que haja um sentido!


Aaah, a dança... é ela quem me recebe, com meus medos, angústias... e me abraça, me aquece, me liberta e me lança num movimento de despertar, de deixar a luz que entra pela retina iluminar, acender e ascender todo o meu mundo interior.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011



A palavra
Pablo Neruda

Sim Senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam ... Prosterno-me diante delas... Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as ... Amo tanto as palavras ... As inesperadas ... As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem ... Vocábulos amados ... Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho ... Persigo algumas palavras ... São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema ... Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas ... E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as ... Deixo-as como estalactites em meu poema; como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes da onda ... Tudo está na palavra ... Uma idéia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que a obedeceu ... Têm sombra, transparência, peso, plumas, pêlos, têm tudo o que ,se lhes foi agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes ... São antiqüíssimas e recentíssimas. Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada ... Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos ... Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas .Américas encrespadas, buscando batatas,butifarras*, feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele apetite voraz que nunca. mais,se viu no mundo ... Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas grandes bolsas... Por onde passavam a terra ficava arrasada... Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras. Como pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes... o idioma. Saímos perdendo... Saímos ganhando... Levaram o ouro e nos deixaram o ouro... Levaram tudo e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras.

domingo, 6 de novembro de 2011


Passar a tarde toda deitada ao lado da pessoa que você ama, ouvindo ela falar bobagens ou divagar sobre assuntos mais ou menos sérios.
Encostar a cabeça em seu peito, receber um cafuné, uma canção boba ao pé do ouvido.
Sentir seu rosto queimando de desejo.
Entregar meu corpo na leveza do seu ser.
Acomodar-me e me esquecer, deitada sobre a opulência do seu corpo, sobre a textura quente da sua pele.
É essa a paz que eu sempre desejei, é essa a tranquilidade pela qual eu tanto esperava. 
O sorriso surge de leve no canto da boca.
Eu esqueço completamente de mim e desejo mais que tudo fazê-lo feliz. 
Admito que amo desajeitada 
e que tenho medo de cair nas mesmas armadilhas de antes, 
montadas por mim mesma, na brincadeira de amar desregradamente. 
Mas agora amo amadurecida e vou cuidar desse amor. 
Excesso inábil de amor, que de tanto, transborda. 
Tudo o que eu peço é que não tenha medo, porque eu mesma tentarei não ter. 
Aceito minha condição de amar tão abruptamente, permito-me. 
Não sinta medo e receba meu amor, por favor, aceite-o. 
Como dizia Lacan, amar é dar aquilo que não se tem. 
Eu não tenho esse amor que te dou, e mesmo assim, amo. 
Deve ser muito bom sentir essa sensação de ser amado, investido libidinalmente, diriam os psicanalistas... 
Eu quero um dia poder sentir isso também ... 


Já faz uns dias que a poeira tem cegado meus olhos, tem feito eles ficarem vermelhos, queimando.
Eu sei que no fundo algo está errado, e já não precisa mais ir tão a fundo pra sentir e perceber isso.
Pensamentos indesejáveis que se repetem, repetem, re pe tem...
É tudo tão passageiro que quase nem existe.
É tudo tão verdadeiro que parece até mentira.

sábado, 5 de novembro de 2011

Para os Sapos.



Restituirá os restos e romperá com aquilo que a retalhou.
Há de reerguer o rosto, reconstruir os risos e se recompor.
Será rato que escapole da ratoeira, e peixe que, dentro da rede, é remador.
Ave de rapina, predador
nessa terra onde o risco de morte cresce sobre a vontade de estar vivo.
Nessa terra onde sapo pula, não por boniteza, mas por precisão.

domingo, 30 de outubro de 2011


"Consegui meu equilíbrio cortejando a insanidade,
Tudo está perdido mas existem possibilidades."

sábado, 29 de outubro de 2011

Que Tempo é esse que não dança no mesmo ritmo que eu? 
Esse Tempo já não me pertence... 
Eu sou sua súdita, senhor Tempo. 
E danço disciplinada no compá do tic tac dos seus ponteiros. 
Vai tiquetaqueando, vai... 
Mas suponho que saiba que agora é a hora de parar, 
porque depois do giro completo, aaah, não há Tempo que me prenda numa realidade onde não toca a mesma música que escuto aqui dentro da minha cabeça... 



"- Se você conhecesse o Tempo como eu conheço - disse o Chapeleiro - você não falaria em perder Tempo como se ele fosse uma coisa. Ele é alguém.
- Não entendi - disse Alice.
- Claro que você não entendeu - disse o Chapeleiro, balançando a cabeça com desprezo. - Tenho certeza que você nunca falou com o Tempo.
- Talvez não - respondeu Alice com cautela -, mas sei que tenho que bater o tempo quando estudo música.
- Ah, isso explica tudo - disse o Chapeleiro. - Ele não suporta apanhar. Agora, se você falasse com ele com educação, ele faria com o relógio o que você quisesse. Por exemplo, se fosse sete da manhã, a hora de ir para a escola, você só precisava cochichar para o Tempo, e o relógio, num piscar de olhos, pulava para o meio-dia: hora do almoço!
- Isso seria ótimo - cochichou a Lebre de Março para si mesma."
Lewis Carroll


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Um dia desses...






Pela manhã, troquei de roupa várias e várias vezes, chequei a bolsa insistentemente... O atraso foi tanto que fui até à esquina e voltei, não daria tempo, não daria mais tempo... O coração acelerado e angustiado, sem saber o que fazer e como compensar aquele erro, aquela falta.

À tarde, o mesmo ritual: Nenhuma roupa serve, cabe, combina... 
Não sei o que colocar na bolsa, o que levar, do que posso precisar, mas não quero ter que carregar muito peso...
Estou de novo atrasada! E o coração acelera de novo, sinalizando que as coisas estão saindo do meu controle...

Enquanto andava, sentia o chão inseguro, a rua insegura, tinha medo de cair, tropeçar, a qualquer momento. Tinha medo de andar, como quando eu era criança e tinha medo de andar e subir escadas. 

O sol era forte e me incomodava também, mas eu queria que fosse possível que meu corpo se desintegrasse naquele momento com a luz do sol. Eu queria sumir no meio de toda aquela luz, calor e barulho. 

Eu pensei e pensei a tarde toda o que podia estar me incomodando tanto? Olhava para mim buscando algum erro, alguma coisa fora do lugar na roupa, mas não, estava tudo certo com a roupa, eu pensava. Tantas vezes eu me olhei no espelho buscando o que eu nem sei o que era... 

A bolsa, a bolsa parecia que estava vazia. Pensava, pensava... o que eu poderia ter esquecido... o quê, de tão importante, que me faz tanta falta...
Sentia aquela angústia de quando a gente sonha que foi de pijama ou sem roupa para o colégio, sabe? O quê eu esqueci??? 

A sensação de que a bolsa está vazia, de que eu não estou levando comigo algo muito importante de que eu vou precisar, só reflete um profundo desamparo! 
Sinto medo, profundo, de viver, e não tenho nada a que me apegar para me proteger. 

A minha bolsa está vazia. Eu estou vazia. Eu não estou levando nada a lugar nenhum. O que vou dizer para as pessoas que tenho que encontrar, nos lugares aonde tenho que ir??? 
Eu não tenho nada a levar comigo, estou vazia e desprotegida. É isso que está tão errado e fora do lugar! 

É tudo tão verdade que parece até mentira.



Tudo soa falso, para quem é sensível demais, porque as pessoas duvidam, então você oscila.
Parece falso sentir tudo tão à flor da pele. E eu, comigo mesma, não sei o que é falso e o que é verdadeiro. Confundo-me.
Deito no divã e, de uma voz trêmula e angustiada, entrecortada por pequenos choros, eu me recomponho, fico séria e sem expressão. Logo estou falando normalmente e sou capaz até de rir e destilar ironias. Tudo isso num intervalo de tempo tão insigificante que é capaz de surpreender a mim mesma.
Sou a típica histérica que eu não toleraria por dez minutos. Tudo em mim parece falso, teatro, e quem quer que veja de fora não teria dúvida disso! Acontece que aqui dentro não é assim que funciona. Acontece que aqui dentro existe um tempo próprio, uma maneira lógica de funcionar, que não condiz com o mundo de fora, o mundo dos sãos, mas que não tira a legitimidade do meu mundo, de tudo o que eu sinto e da maneira como sou.
Não vivo uma vida falsa, mas essa inconcretude dela me faz sentí-la falsa. Às vezes não sei nem se eu vivo... queria poder tocar na vida pra ter certeza. Eu existo? Eu estou aqui, não estou? Ás vezes só sinto tudo passando, como num filme, e a vida vivendo sozinha, por si só. E eu sem saber se estou nela, ou se posso interagir...
Uma angústia de não existência, é como se, mesmo sabendo que eu existo, eu não visse sentido nisso porque eu não me sinto. Eu vejo e sinto as coisas a minha volta, a vida correndo, mas eu não me sinto, eu não sinto nada dentro de mim, eu não sinto o que sou, se sou alguma coisa, se tenho alguma coisa que se pode chamar de... personalidade? Tipo... algo meu, que é só meu, que me define, que me caracteriza, gostos, prazeres, escolhas, opiniões, sei lá... personalidade. O que sinto é uma ausência disso tudo, uma ausência dentro de mim, ausência de mim mesma. Eu me sinto estranha, agindo como se não fosse eu, como se não fosse por mim, como se eu precisasse sempre de um Outro para que eu tenha um Eu. 
Sinto-me assustada com isso.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Escrevo no braço por falta de espaço.
Escrevo na mão por faltar opção.





O papel em pedaço recebe o traço que é o laço que faço comigo.

Se falta papel, meu corpo é leito das minhas palavras.
Se falta palavra, meu corpo me recebe.

Tenho vergonha do que escrevo às vezes...
excesso de sentimentalismo.
Sou toda emoção e isso me constrange,
mas gosto de escrever mesmo assim, é meu melhor prato de comida, me sacia.
E não tenho pretensão nenhuma de ser uma escritora renomada da academia brasileira de letras.
Vou continuar sendo a poeira cósmica no universo...
mesmo assim, feliz.



19 de Outubro.


Certa vez uma bruxa branca, Wicca, leu minha mão e disse que quando eu fizesse 21 anos a minha vida ia mudar muito. Disse que, o que até então eu conhecia sobre o amor, ia tomar outra configuração, porque entraria na minha vida uma pessoa que transformaria tudo, que me faria sentir as coisas de forma diferente. E os meus relacionamentos, até o momento tão rarefeitos, iriam se solidificar a partir da presença dessa pessoa na minha vida.
Não acredito em bruxaria, e às vezes não acredito nem no amor, mas lembrei-me disso há poucos dias, e por um momento parece que meu coração se encheu de esperança. 
A possibilidade de reconstruir, recomeçar, mudar, faz com que, talvez pela primeira vez, eu sinta vontade de comemorar meu aniversário, e me sinta feliz por ele.
Ainda sinto um desconforto em passar a limpo minha história, constatando que o saldo de mais um ano é negativo e que não soube usar o tempo a meu favor, negligenciando a vida, que corria ligeira sem que eu nem sequer percebesse sua fugacidade... 
Olho-me no espelho, a pele, o sorriso, o próprio olhar... é tudo diferente, um ano a mais de histórias, um ano a mais... mas carregam a mesma essência, a essência daquilo que transpassa o tempo e nunca muda.
Não, não estou triste, pelo contrário: sinto uma felicidade aqui dentro que talvez nunca tivesse experimentado nos outros aniversários. Uma felicidade pulsante, que faz meu coração bater mais rápido... Acho que a bruxa cometeu um erro de cálculo, pois compreendi o amor, e ele fez minha vida mudar, um pouco antes de chegar aos 21. Sinto-me cheia de alegria por, a partir de agora, poder continuar essa mudança, amar um amor amadurecido e límpido e aceitar a vida, de peito aberto, tal como ela é.
"Quando penso em alguém, é por você que eu fecho os olhos... Sei que nunca fui perfeito, mas por você eu posso ser... 
Posso brincar de descobrir desenho em nuvens, posso contar meus pesadelos e até minhas coisas fúteis, posso tirar sua roupa, posso fazer oq eu quiser, posso perder o juízo, mas com vc eu to tranquilo, tranquilo..."

segunda-feira, 17 de outubro de 2011


Eu não sei fazer escolhas, nunca soube. Tenho medo de todas elas.

Sinto-me podre por dentro... 
Aquele gosto amargo na boca, aquele barulho do ranger das vísceras, que grita forte lá dentro... 
Aquele vazio pós hiperfagia...

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

C'est le vent.








Tal qual a personagem "Ana Terra", de Érico Veríssimo, as mudanças em minha vida são anunciadas pelo vento.
Ninguém percebeu, mas ventou bastante nessa tarde, e já faz uns dias que as janelas e portas batem com força, como se fossem se arrebentar com a brutalidade do vento.




segunda-feira, 10 de outubro de 2011


À noite, na cabeceira da cama, é que a gente acomoda o pensamento...
Ele trava um duelo com o sono, insiste muito, resiste, até o sono o vencer.
Não sou muito de rezar, mas acho que meus pensamentos carregam orações em si, 
pois peço, peço muito, a qualquer força maior, divindade, que seja... 
peço pra que aquiete meu coração, peço pra que não mais me deixe sofrer...
peço pra que eu tenha coragem, sim, coragem, de ser o que sou e seguir com o que sinto.
Tenho minhas bíblias e leio, religiosamente, com a fé cega do cristão mais ortodoxo: Anais Nin, Lispector...
entre outros profetas da literatura que parecem ter dito as minhas palavras antes mesmo que eu pudesse pensá-las.
E fico me perguntando: Como alguém é capaz de fazer alquimia com as palavras? Por onde elas brotam? De onde elas saem e por que são tão vivas? 
E a questão que mais me intriga: Por que elas têm esse poder mágico de me tocar?
Sou um ser absurdamente verbal, adoro falar e gosto mais ainda de ouvir. 
Ouço com tanta devoção, absorvo cada pedacinho do dizer humano, cada sílaba, cada fonema... 
Queria poder ler todos os livros, tomar pra mim tudo de todos os universos que existem. 
Parece algo tão simples: entra pela bolinha preta do olho e transforma tudo lá dentro! 
Queria poder entender todos os idiomas... me encanto com sotaques e sou uma curiosa e apaixonada por línguas! 
Quero mergulhar na língua dos surdos/mudos, tenho ânsia de comunicação, impulsos para me gesticular e perguntar coisas e coisas... Como eles aprendem a ler e escrever, como são seus sonhos...?
Acho que tenho licença poética para citar Lewis Carroll: Words has temper! Sim, palavras têm temperamento, sentimento e uma espécie de vida própria, sobre a qual nós somos inteiramente responsáveis. É preciso tomar cuidado também, às vezes elas machucam...
Uma vez, há muito tempo, eu ouvi o Ziraldo falar na televisão: "A palavra é o ápice da alma." 
E se ele pudesse me ouvir, eu diria duas palavras: "Eu concordo!". Eis o que minha alma sente, o que ela é!
Toda comunicação é uma oração! 

sábado, 8 de outubro de 2011

Flores - Titãs e Marisa Monte



Olhei até ficar cansado de ver os meus olhos no espelho
Chorei por ter despedaçado as flores que estão no canteiro
Os punhos e os pulsos cortados
E o resto do meu corpo inteiro
Há flores cobrindo o telhado
Embaixo do meu travesseiro
Há flores por todos os lados
Há flores em tudo o que eu vejo
A dor vai curar essas lástimas
O soro tem gosto de lágrimas
As flores tem cheiro de morte
A dor vai fechar esses cortes
FLORES
FLORES
As flores de plástico não morrem.

Eis que o verbo se fez carne. 
E desde que o mundo é mundo
a gente come a carne e vomita os verbos.
Não há palavra nem saciedade.
Deixei-me dançar ao som dos meus desejos...
Sinto-me como um rio que transbordou.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011



"Deixa-me entrar - pediu - sou teu irmão. Só tu me limparás da lama escura a que me conduziu minha paixão."

A Loucura desdenha recebê-lo, sabendo quanto o Amor vive de engano,
mas estarrece de surpresa ao vê-lo, de humano que era, assim tão inumano.
E exclama: "Entra correndo, o pouso é teu.
Mais que ninguém mereces habitar minha casa infernal, feita de breu,
enquanto me retiro, sem destino,
pois não sei de mais triste desatino que este mal sem perdão,
o mal de amar."

Carlos Drumond de Andrade