segunda-feira, 28 de outubro de 2013


A duras penas
A puras cenas
Gente que não muda
não é gente de verdade.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Sylvia Plath

Talvez eu nunca tivesse antes sabido acolher bem as críticas à minha escrita, ou melhor, à visceralidade e virilidade emocional da mesma. O Eu, escancarado, inibe as pessoas que, reativas e sem considerarem as ambiguidades e tropeços da língua/poesia, interpretam deliberadamente a escrita e disparam julgamentos como exímios críticos literários formados pelos valores do senso comum. 

Percorrendo o livro da Ana Cecília Carvalho e a análise que ela faz sobre "A Poética do Suicídio em Sylvia Plath" (título do livro), encontro a seguinte passagem, que traduz melhor meu pensamento: 

" Um dos esforços interpretativos exigidos pelo poema mostra a tentação que ele provoca no leitor, que é levado a atribuir ao texto uma realidade biográfica pré-existente, de que o texto seria a cópia fiel. O outro lado permite pensar que, se tudo o que se tem são segmentos de escrita, do que, afinal, se fala ali? Sem cairmos na sedução do imaginário, será possível distinguir o que se anuncia na enunciação? E que função teria?
Agindo potencialmente para seduzir o leitor, em 'Lady Lazarus' as imagens especulares e teatrais, facilitadoras do processo de identificação, conjugam-se à situação criada pelo texto, em que um eu se exibe como se estivesse em um palco. O aspecto sedutor dessa exibição reside no fato de que o eu se apresenta com uma grandiosidade que o torna capaz de enfrentar a morte e ainda permanecer vivo. Tal encenação efetuada na escrita irradia-se a partir de um centro narcísico e ressoa, em maior ou menor grau, na aspiração à imortalidade presente no coração do leitor. 
Na morte buscada como 'uma arte', enfim cintila - paradoxalmente- a imortalidade."

Para terminar, segue o maravilhoso poema Lady Lazarus, Sylvia Plath: 

LADY LAZARUS

Tentei outra vez. 
Um ano em cada dez 
Eu dou um jeito —

Um tipo de milagre ambulante, minha pele 
Brilha feito abajur nazista, 
Meu pé direito

Peso de papel,
Meu rosto inexpressivo, fino
Linho judeu.

Dispa o pano 
Oh, meu inimigo. 
Eu te aterrorizo? —

O nariz, as covas dos olhos, a dentadura toda? 
O hálito amargo 
Desaparece num dia.

Em muito breve a carne
Que a caverna carcomeu vai estar
Em casa, em mim.

E eu uma mulher sempre sorrindo.
Tenho apenas trinta anos.
E como o gato, nove vidas para morrer.

Esta é a Número Três. 
Que besteira 
Aniquilar-se a cada década.

Um milhão de filamentos.
A multidão, comendo amendoim,
Se aglomera para ver

Desenfaixarem minhas mãos e pés —
O grande striptease. 
Senhoras e senhores,

Eis minhas mãos
Meus joelhos.
Posso ser só pele e osso,

No entanto sou a mesma, idêntica mulher. 
Tinha dez anos na primeira vez. 
Foi acidente.

Na segunda quis
Ir até o fim e nunca mais voltar.
Oscilei, fechada

Como uma concha do mar.
Tiveram que chamar e chamar
E tirar os vermes de mim como pérolas grudentas.

Morrer
É uma arte, como tudo o mais.
Nisso sou excepcional.

Desse jeito faço parecer infernal. 
Desse jeito faço parecer real. 
Vão dizer que tenho vocação.

E muito fácil fazer isso numa cela. 
É muito fácil fazer isso e ficar nela. 
É o teatral

Regresso em plena luz do sol
Ao mesmo local, ao mesmo rosto, ao mesmo grito
Aflito e brutal:

"Milagre!"
Que me deixa mal.
Há um preço

Para olhar minhas cicatrizes, há um preço 
Para ouvir meu coração —
Ele bate, afinal.

E há um preço, um preço muito alto 
Para cada palavra ou cada toque 
Ou mancha de sangue

Ou um pedaço de meu cabelo ou de minhas roupas. 
E aí, Herr Doktor. 
E aí, Herr Inimigo.

Sou sua obra-prima,
Sou seu tesouro,
O bebê de ouro puro

Que se funde num grito.
Me viro e carbonizo.
Não pense que subestimo sua grande preocupação.

Cinza, cinza —
Você fuça e atiça.
Carne, osso, não há mais nada ali —

Barra de sabão, 
Anel de casamento, 
Obturação de ouro.

Herr Deus, Herr Lúcifer
Cuidado.
Cuidado.

Saída das cinzas
Me levanto com meu cabelo ruivo
E devoro homens como ar.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013


Acho muito interessante esse tema vir à discussão, afinal, já é tempo de abolir certos preconceitos e falar de coisas que antes circulavam apenas entre os buchichos maldosos das vizinhas: "olha lá a dona flor e seus dois maridos!"
Vamos, de antemão, combinar uma coisa: Cada um vive da forma como acha melhor, certo? Cada um é livre para buscar o prazer do jeito que mais lhe agrada, certo? Ok, agora podemos avançar na discussão, meio unilateral, claro, visto que blog não é la uma página muito lida e comentada. Mas não importa, como de costume, expresso aqui o que penso a respeito daquilo que me salta aos olhos.
Aqui vai uma confissão: desde o meu primeiro namorado, se é que eu poderia chamar assim, eu era adepta do tal "relacionamento aberto". Eu achava um pecado obrigar alguém a se comprometer, e que, além disso, seria muito mais interessante estar com uma pessoa que vem até você porque te quer, te deseja, e não por estar presa num contrato afetivo chamado "namoro". Poético, quase.
E então os anos se seguiram, minha mãe rezando para eu "desencalhar", a família já desconfiando de algo "fora dos eixos"... e lá ia eu, feliz, vivendo "ao máximo" a minha sexualidade, no estilo "OLX Desapega".
Até que um dia apareceu um príncipe encantado num cavalo branco... MENTIRA! Já se sabe há tempos que os príncipes não vêm em cavalos brancos, eles andam de 2004 que nem a gente! 
Até que um dia eu entendi que esse meu comportamento, essa minha posição subjetiva frente ao contato com um parceiro sexual e à possibilidade de um relacionamento, era mais uma barreira à entrada do amor.
Amor, quem dirá que sabe realmente o que é isso?
Eu apenas compreendo que algo ruiu na maneira como eu entendia e até subjugava o amor. Apenas compreendo que, para mim, o relacionamento aberto só durou tanto tempo e funcionou até bem durante esses anos todos porque eu me envolvia de forma superficial. Mesmo que eu me jogasse de cabeça no que eu estava vivendo (e fiz isso inúmeras vezes), ainda assim eu não acreditava que o amor pudesse existir de verdade, eu não acreditava que eu pudesse ter alguém ao meu lado, um companheiro. Eu me sentia sozinha, mesmo quando me envolvia com alguém (s), e seguia sozinha, esperando, talvez, alguém ou algum sentimento que eu ainda desconhecia.
Numa relação aberta eu tinha uma certeza: mais cedo ou mais tarde aquilo iria acabar. Havia um prazo de validade, geralmente curto. Dessa certeza surgia uma dúvida angustiante: o que era preciso fazer, então, para não se tornar desinteressante para o outro?  Era preciso dar o meu melhor no começo, até que o melhor já não fosse mais interessante e então a relação era descartada. 
Sim, estamos na era dos amores líquidos, expressão incessantemente repetida na faculdade. É como o entrevistado falou, amores voláteis. Argumentos assim me faziam desacreditar nos relacionamentos, monogamia e todas essas coisas que, como dizia um antigo professor, foram impostas pela cultura judaico-cristã ocidental. Mas é que de repente eu me peguei desajeitada, desejando tanto uma única pessoa, que todas as outras se apagaram. E assim, não faz mais sentido a possibilidade de que essa pessoa a quem amo queira estar com mais alguém além de mim. Agora entendo o ciúme, a insegurança, coisas que julgava derivarem de "mentes ainda um tanto fechadas". Caí no comum, mas o comum me faz bem, me faz feliz!
Acho mesmo importante que os amores tenham lá sua liquidez, afinal, já dizia o bom Marx, "tudo o que é sólido desmancha no ar". O amor não pode ser rígido, ele precisa ser maleável, ele se transforma ao longo de uma relação. Ele não é descartável, ele é reciclável, entende? 
Já não preciso dar tudo de mim no começo porque há tempo, porque eu tenho alguém a longo prazo, porque o amor e a relação são construídos com o tempo e porque tudo tende a ficar melhor à medida que o casal vai se conhecendo. Saber disso foi como receber um abraço, me acalentou. Há tempo, suficiente, pra construir e viver um amor. 



domingo, 4 de agosto de 2013

 
   Eu gosto da simplicidade pela qual as crianças lidam com as coisas, gosto de como elas são práticas. Exemplifico com a cena em que meu irmão, de 10 anos, conhece meu namorado:  
   Ele chama Lucas, mas não é qualquer Lucas, pois o Lucas namorado da "minha irmã" é estudante de cinema. Ele tem uma produtora também, é roteirista e diretor. É fotógrafo. Além disso ele tem uma banda de punk rock, é guitarrista e também compõe. Ah, ele fala inglês fluente e deve dar aulas ano que vem. É skatista também, e muito bom em games! 
   Se eu estiver esquecendo alguma coisa me perdoem, sério. Lembro que eram "9 coisas" que, logo, faziam com que o Lucas fosse 9 vezes mais que um Lucas qualquer, 9 vezes melhor que um cara comum. 
   É tão louco como nós, adultos, tendemos a nos reduzir ao nada, tanto que nem mesmo meu namorado conseguiu lembrar ao certo quais eram as tais "9 coisas" que ele próprio é, segundo o olhar atento e curioso do meu irmão.
   Esvaziamos de sentido e de valor o que fazemos e o que somos. Reduzimos ao nada, ao comum, ao "pouco importante". 
   Projetamos muitos nomes para nós, mas sempre, veja que irônico, com o "futuro" vindo antes: "futura psicóloga", "futuro cineasta". Abandonamos o que somos hoje e os nomes que carregamos agora, nesse momento. 
   Para meu irmão eu sou estudante de psicologia e falo inglês, espanhol e italiano, além do bom e velho português, claro. Sou bailarina de flamenco e atriz. Ah, se faço poemas, sou poeta. É mágico, me sinto a Nathalie Portman ou coisa assim! 
   Convenhamos, se de fato fazemos tudo isso, por que não dar os nomes aos bois? Por que é tão difícil nos apropriarmos do que fazemos, mesmo que seja pouco ou pareça bobo?
   Somos e vamos ser sempre um projeto futuro de algo muito melhor do que o presente, fato. E quero ser, um dia, muito boa no que escolhi fazer, em  pelo menos uma dessas coisas todas aí... Mas bem ou mal, boa ou não, eu sou, você é, nós somos isso aqui agora! São essas "coisas todas" que criança vê e adulto não que nos diferenciam uns dos outros, que nos tornam seres singulares e interessantes. 
   Não, não sou escritora, e nem leitora de livros de auto-ajuda, antes que o papo fique chato e te leve a pensar algo do tipo. Voltemos lá na simplicidade e praticidade das crianças:
   Quer demonstração maior de que adulto é imbecil e complica tudo? 
   Ontem houve uma festa de casamento de uma prima, ocasião em que pude apresentar meu namorado, o referido Lucas, aos meus pais e aos meus familiares. Na mesa com meus pais e meu irmão, dividíamos uma porção de petiscos: batata, mandioquinha, torresmo... Minha mãe fisgou a última linguicinha do prato e a levou em direção ao Lucas, enquanto meu irmão também salivava por ela! rsrs 
   Foi quando eu disse ao garoto: "Viiiixi, perdeu seu lugar na família, né?!" (Eu aprendi que genro é tratado como filho, mas um filho que não é irmão da filha que é namorada... deu pra entender isso?) 
   Ok, voltemos ao diálogo: "Viiiixi, perdeu seu lugar na família, né?!" 
   "É, perdi minha linguiça!"
   Fica aqui a minha cara de imbecil. Ah, e a certeza de que quando crescemos complicamos tudo, damos significados demais a coisa de menos. Uma linguiça às vezes é só uma linguiça como um cachimbo às vezes é só um cachimbo, já dizia o tio Freud.

sábado, 8 de junho de 2013


O que você faz quando quebra juramentos que fez a si mesmo? Quando irrompem no seu íntimo aqueles pensamentos dos quais você prometeu se desvencilhar? Quando se vê envolta por questões que julgava já estarem resolvidas e não se sente mais no direito de sentir, pensar e muito menos falar  sobre elas? Quando não se reconhece mais ali, e nem aqui? Quando nada te significa mais e melhor do que a falta de sentido até mesmo na sua recorrente falta de sentido...? E aí, o que você faz?
Do gozo auto-erótico, que não abria espaço para o outro, me vejo deixando o outro chegar perto, entrar e quem sabe ficar de vez. Sacio minha fome de amor, como, engulo-o com avidez, incorporo o amor e o corpo... o corpo fica blur. 
Mas algo de mim ainda resiste, quer expulsar o excesso e deixar vazio de novo, fechar a fenda que se abriu, tamponar a falta do outro e do amor, se satisfazer por si só, voltar a funcionar como era antes. Mas falha. Falha descaradamente, não funciona direito mais e me deixa prostrada na frustração e desespero. Não sei mais como agir, não conheço mais a engrenagem desse meu maquinário psíquico, que por sorte (ou não), tem mudado radicalmente, um tanto a cada dia. 
Sei que é assim que eu me perco e me encontro mesmo perdida, pois sei que me perder agora é importante para sair de onde estou há tanto tempo.  
Sei também que, se não fosse por esse outro, essa fenda se espalharia pelo meu corpo. É por esse outro que deixo o meu corpo íntegro, mantenho-me por inteira. Sem ele já estaria despedaçada.
Mas me interessa mais o que eu ainda não sei.

domingo, 2 de junho de 2013


Poema nascido da insônia: relato sobre um rato.

Mas esse rato imaginário no armário... 
Dele, só sinto o cheiro. Nenhum barulho faz, é sorrateiro.
Se durmo, meu sonho ele invade. Rato imundo, covarde!
Por que não me mostra o que é de verdade?

domingo, 14 de abril de 2013


A palavra é mesmo um buraco no espaço onde jogamos as nossas ideias, né? 
A comunicação é a coisa mais difícil de acontecer, apesar de todos os artifícios, inclusive tecnológicos, que criamos para ela! 
Cada um escuta o que quer e fala o que não é (o ditado popular é invertido!). 
Caímos sempre na incompreensão e não sabemos lidar com ela. 
A incompreensão é uma ruptura entre o eu e o outro que também abre buracos, falhas, nos condena ao sentimento de vazio e solidão.
O único jeito é abrir mão, é aceitar ser incompreendido, incompreensível, até para nós mesmos. 
Seguir deixando as falhas à mostra, os buracos abertos e os ditos pelos não ditos...

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Dos poemas mais verdadeiros e belos que já vi!



Esta Velha Angústia - Fernando Pessoa

Esta velha angústia, 
Esta angústia que trago há séculos em mim, 
Transbordou da vasilha, 
Em lágrimas, em grandes imaginações, 
Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror, 
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum. 

Transbordou. 
Mal sei como conduzir-me na vida 
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma! 
Se ao menos endoidecesse deveras! 
Mas não: é este estar entre, 
Este quase, 
Este poder ser que..., 
Isto. 

Um internado num manicômio é, ao menos, alguém, 
Eu sou um internado num manicômio sem manicômio. 
Estou doido a frio, 
Estou lúcido e louco, 
Estou alheio a tudo e igual a todos: 
Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura 
Porque não são sonhos. 
Estou assim... 

Pobre velha casa da minha infância perdida! 
Quem te diria que eu me desacolhesse tanto! 
Que é do teu menino? Está maluco. 
Que é de quem dormia sossegado sob o teu teto provinciano? 
Está maluco. 
Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou. 

Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer! 
Por exemplo, por aquele manipanso 
Que havia em casa, lá nessa, trazido de África. 
Era feiíssimo, era grotesco, 
Mas havia nele a divindade de tudo em que se crê. 
Se eu pudesse crer num manipanso qualquer — 
Júpiter, Jeová, a Humanidade — 
Qualquer serviria, 
Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo? 

Estala, coração de vidro pintado!

quarta-feira, 3 de abril de 2013


Eu olho pra você e às vezes sinto uma mistura doce de pena e ternura.
Pena porque você é só mais um tentando se ajustar, se adequar, se adaptar, sendo bombardeado de exigências que você nem mesmo sabe de onde elas vêm.
Mas eu vejo você, eu vejo a sua verdade.
Você é como eu, você tem muita vida pulsando aí dentro, você transpira por cada poro da sua pele a vontade de escapar disso tudo, a sua mente está em outro lugar, mesmo que você a queira aqui, a mantenha aqui, no meio desse caos de todos os dias.
É aí que eu sinto ternura, entende?
Eu vou viajar. Gostaria muito que viesse comigo, que desse um tempo pra sua vida, essa que todo mundo conhece e indiretamente controla. Você pode escolher vir comigo e apenas experimentar... Ou pode escolher ficar.
Não, isso não é apenas uma sensibilidade e inteligência afloradas, agradeço. 
É mais que isso... Sinto que estou enlouquecendo de novo.. está tudo desmoronando e eu não tenho pra onde correr. 
Tudo está perfeito lá fora! O dia está ensolarado, querido! Não vê que o mundo sorri para nós? Olha pra curva do universo, não é um belo sorriso? Olha as nuvens brancas como dentes, o mundo escancara seus dentes sorrindo! Mas está pesado, está caindo sobre mim, a grande boca sorridente do mundo pode me engolir.
Se você apenas viesse comigo nessa minha fuga... então seria apenas luz nos nossos olhos, sem poeira, sem lágrima salgada, sem embaraços...
Alguns fantasmas ainda sopram no meu ouvido à noite, mas eu nem tenho medo. O que me ameaça é o excesso de bem, de bem-estar, paz e tranquilidade. Eu sou  uma bomba prestes a explodir dentro de um templo budista. Mas me adapto, tenho me adaptado ao ponto de sentir fome. 
Sinto que atravesso estágios e que o meu tempo está acabando, estou nos estágios finais, mas não consigo arrematar. 
É que eu sinto raiva disso tudo, pra ser franca... EU sou inadequada ao ambiente, e não o contrário, e não o ambiente hostil para mim. 
E estou casada desse vai-vem emocional.

terça-feira, 26 de março de 2013



Faz parte da vida sermos lembrados, no presente, o porquê de termos tomado certas decisões no passado. 
A dúvida, quando aparece, é dádiva, não é dívida. 
Logo, não preciso pagar o mesmo preço de antes, eu já paguei e me esgotei, em paciência e tolerância. 
Da dúvida tiro a certeza de que, de fato, nada mudou, nada se acrescentou, diminuiu, modificou, amadureceu no discurso. Ou seja, se não tenho nada de novo para ouvir, também não tenho nada a declarar. 
E olhe só, eu ainda "perco", ou "ganho", ou apenas "gasto" parte do meu tempo corrido para declarar, para tornar claro o que ainda parece obscuro: considero importante enxergar as coisas com clareza, aprender a dar explicações mais consistentes e argumentos mais embasados. Aceito a crítica ao saber, aceito o furo no saber, o ponto de impossibilidade em todo o saber, o enigmático e inacessível, que Lacan chamará de "Real". Esse é o tipo de formação que é possível se ter, a diferença está na forma como a gente se apropria do conhecimento, cuidando para não nos alienarmos a ele. (Faço aqui uma passagem pelas aulas da Nádia). 
"Estou no 8º período, já tenho um bom conhecimento sobre como as pessoas funcionam..." Lembro de um grande amigo dizer isto quando eu ainda era caloura. Nesse momento atribui a ele um ar de autoridade, supus, ali, um saber que, mais tarde, entenderia como acabo de descrever. Ainda que ele seja uma figura de referência para mim, hoje sou eu quem tem esse "bom conhecimento sobre como as pessoas funcionam" e posso dar garantias de que não é uma queda muito grande e dolorosa a da idealização ao destronamento e rechaço do "mestre", que entendo também a desimplicação do sujeito histérico e culpabilização do outro (graças a leituras de Quinet). 
Mas, de tudo, algumas lições que considero de maior relevância, são infelizmente levadas à revelia: Nunca ponha entre aspas aquilo que não foi dito por outrem, assuma o que você diz, o que você nomeia. Nunca nomeie ninguém, você nunca terá propriedade suficiente para isso. Apontar as falhas do outro nada mais é que uma tentativa vã de tamponar as próprias falhas e impossibilidades. O exercício da autocrítica e esforço de autoconhecimento te faz sentir menos injustiçado pelo mundo e pelas pessoas, traz ganhos para si mesmo e para o próximo. Quanto mais saber você acumula ao longo dos anos e dos estudos, mais generoso você fica com esse próximo, tantas vezes distante. E acredite na voz de quem te fala, ou de quem te cala, porque ela existe, ela sempre esteve ali.

segunda-feira, 18 de março de 2013



Eu fico pensando... por que há essa cisão entre o sagrado e o profano, entre o sórdido e o imaculado na nossa época...? Ou se é santa ou puta, o meio termo é proibido. E, sei lá, talvez para se chegar nesse pretenso meio termo, há que se passar pelos extremos antes mesmo. Aí, tem gente que vai aos extremos, mas por lá fica, não retorna, não transcende, não assimila...
Uma das coisas que mais me entristece nas relações é que essa dicotomia entre afeto x sexualidade parece uma barreira, é tão difícil vivenciar os dois lados com uma pessoa só, é tão difícil integrar esses dois lados numa pessoa só, na gente mesma. A dor da separação não é apenas do outro, talvez seja mais radical, seja dessa separação do afeto e do desejo, não sei...
Fiquei pensativa...
Meu conflito é grande demais: Eu quero o puro, o romântico, o belo, o seguro, o amor correspondido. Mas eu amo o sórdido, inescrupuloso, o incerto, o risco, o desprendido...
Eu amo demais o mundo, a vida, a sexualidade... amo tanto que nem cabe em mim, é uma vontade de viver, sentir, amar que nem se encaixa nos limites do meu corpo!
Bem, nem sei por que estou escrevendo tudo isso, acho que quis mesmo desabafar, me "desnudar" para alguma opinião, crítica, reflexão... que me são sempre importantes.
O que escrevo aqui não se trata de culpa ou arrependimento. Eu não me submeto, eu me meto, porque bem quero. Não estou sob, "sub" a nada nem a ninguém. Eu não me submeto a situações potencialmente adversas, eu me sujeito a elas. Existe ali um sujeito que atua, que faz as escolhas e pode entrar e sair de cena quando bem entender. 
Eu sei o que eu faço, eu sei bem o que eu quero e eu sempre conheço o chão que eu piso. Eu tenho a escolha, eu posso não pisar se eu não quiser, e não causaria sofrimento. Ninguém pode quebrar meu coração porque ele já veio partido e eu aprendi a lidar com isso. Nada pode ser tirado de mim porque nada me pertence, eu não sou dona de nada, eu tenho o nada. 

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013



Cure a minha loucura com banho frio
Cubra sua loucura com panos quentes
Cure minha loucura com suplementos e mingau de aveia
é que eu me sinto feia
e de boca cheia 
eu não posso falar.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013


Eu perdi o que era importante
Eu não quero começar de novo
Eu não tenho mais ânimo e paciência
Eu não quero construir um castelo de cartas
Pra qualquer idiota soprar e não deixar nada em pé
Eu fiquei sozinha outra vez
Eu não gosto do que eu tenho
Eu não tenho quase nada
É fácil perder os sentidos
Quando nada mais faz sentido.

O que vejo a minha volta é um imenso labirinto,
armadilhas. 
Agora eu só me sinto perdida.
A "menina dos 96 na redação" morreu. 
Ela tinha o quê oferecer para alguém,
tinha algo em quê acreditava,
tinha um objetivo, claro, em vista.
Agora ela só se sente perdida.
É tudo tão absolutamente incerto e não,
ela não lida bem com isso.
Tanto é que, no ápice da incerteza, 
acomodada no campo imaginário,
e no choque com um real que exige decisões e, 
principalmente, atitudes,
ela adoeceu. 
Na total falta de domínio sobre sua vida,
sobre seu presente e seu futuro,
ela se controla numa dieta insana.
Tudo estava sendo tirado dela,
não sobrava mais nada, mais ninguém,
mais nada além de um monte de incertezas,
inclusive, 
se ela quereria ou não continuar vivendo. 

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013


Você afirma que eu não consigo entender. Fato, não consigo entender. 
Tem muitas coisas que não consigo entender, mas aceito como são. 
No nosso caso, ou melhor, no seu caso, se eu tentar entender eu corro o risco de descobrir coisas muito ruins, corro o risco de perceber o que eu prefiro deixar no lugar fictício de desconhecido. 
Há coisas para as quais eu não dou nome, não qualifico, e não é à toa que prefiro assim. Não pretendo pensar sobre o lugar que eu ocupo na sua vida, sobre o que eu sou pra você, sobre o que você é pra mim... porque...
Porque, quando você diz que eu não entendo, não entendo o que é amor, não entendo o que é se importar com outra pessoa... pode ser que você esteja certo, pode ser que eu não entenda porque nunca amei, porque nunca coloquei ninguém na frente da satisfação dos meus desejos, porque eu simplesmente não me importo com ninguém. Porque as pessoas e os relacionamentos apenas passam por mim, e eu passo por eles, sendo objetalizada à mesma medida que faço do outro meu objeto de luxo e luxúria. Não é amor, não há afeto, é gozo. Só.
Surpreende-me sim que a essa altura você venha com esse discurso de "meia-culpa". E que me faça pensar que, se não te entendo, é porque nunca me importei de verdade com ninguém. De repente me sinto monstruosa, e não é a primeira vez que sou levada a me sentir assim. Já me apontaram meus defeitos antes, baby. Já falaram como sou sacana, desonesta, maldosa, egoísta e manipuladora... Viu, você não é nenhuma novidade pra mim. Você não é o primeiro em nada na minha vida, e depois de você virão outros como você. Se você amanhecer o dia decidido a nunca mais voltar, eu apenas não me importo. Que seja. Eu apenas digo que existem vários porquês pra todas as coisas do mundo. 

sábado, 19 de janeiro de 2013

Alívio



Ali via tantas saídas para tantas janelas fechadas. Ali via um jeito de fazer o ar entrar. Inspirar fundo e soltar devagarinho, assimilando o que estava acontecendo em volta. 
O impulso não é impensado. Ele pode ser estratégico, calculado, em frações de segundos. Mas é impulso porque o julgamento está incorreto, corrompido pelo desejo imediato de alívio. 
O alívio não é apenas diminuir a pressão que causam todas as janelas fechadas e esvaziar a angústia. O alívio pode ser também mudança de estado, quebra abrupta da janela fechada, ou de um copo, ou de um corpo... Mudança de um estado ruim talvez até para um pior... mas só por haver mudança, o alívio acontece.
Não havia como doer mais, não via nada que pudesse aliviar... A vida é uma novela, e um novelo de lã que se puxa devagarinho, vai trançando, até acabar. Mas os nós, esses nós que não podemos desatar, tudo aquilo com que não aprendemos a lidar, com que não queremos lidar, com os nós, com o eu... dá mesmo vontade de arrebentar a linha do novelo, e de sair de cena da novela.

E’ proprio quando pensi di morire di dolore, di dover affrontare una situazione che supera di gran lunga le tue capacità, la tua fantasia, le tue possibilità, che scopri una parte di te sconosciuta e importantissima. E’ li che viene fuori la grinta, la voglia di farcela, la necessità e la responsabilità di andare oltre, per te e per le persone che ti stanno intorno. E’ proprio quando senti che stai definitivamente per soffocare, che finisci per imparare a "respirare".

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013


Que bom seria viver a vida
se ela não fosse mal resolvida.
Em cada passo um descompasso.
Em cada crença uma sentença.
A inocência não tá perdida,
tá por aí mal dividida. 
Da extrema melancolia à mais imbecil euforia
De tirar medidas a tomar medidas.

sábado, 5 de janeiro de 2013



Nenhum amor resiste.
Nenhuma amizade persiste.
Nenhum sentimento insiste.
O tempo passa como um trator por cima de tudo.
Esmaga, reduz.
Derruba tudo o que foi construído.
Aqui se vai mais um ano
E eu ainda escutando aquelas músicas de dois anos atrás.
Eu sempre fui mesmo aquela menina fora do seu tempo.
Esse foi um ano de correção de erros.
De reaproximar da família,
Retomar o contato com os velhos e bons amigos,
De regularizar o curso e reatar meu compromisso com ele.
Aqui se vai um ano de organização e preparação da casa
Para receber um ano novo e ainda mais intenso.
2013 mal chegou e já sinto os desafios que estão por vir.
Venta bastante antes de toda tempestade.
Se tenho pedidos para o ano novo, um deles é que todo esse vento não seja só um prenúncio de dias difíceis, mas que ele me traga coragem.
Que me traga coragem de mudar, embora seja mais cômodo deixar tudo como está e não ter nada de novo, nem bem e nem mal.
Desejo bens maiores que os males, desejo leveza, tranquilidade e segurança para encarar todas as mudanças que precisam acontecer.
Além de coragem, preciso de atitude e confiança.
Não é uma tarefa fácil desejar, localizar os desejos... Às vezes eles parecem mortos, adormecidos.
Antes de qualquer coisa, desejo ter desejos vivos!
Desejos vivos, daqueles que impulsionam, movimentam.