terça-feira, 26 de março de 2013



Faz parte da vida sermos lembrados, no presente, o porquê de termos tomado certas decisões no passado. 
A dúvida, quando aparece, é dádiva, não é dívida. 
Logo, não preciso pagar o mesmo preço de antes, eu já paguei e me esgotei, em paciência e tolerância. 
Da dúvida tiro a certeza de que, de fato, nada mudou, nada se acrescentou, diminuiu, modificou, amadureceu no discurso. Ou seja, se não tenho nada de novo para ouvir, também não tenho nada a declarar. 
E olhe só, eu ainda "perco", ou "ganho", ou apenas "gasto" parte do meu tempo corrido para declarar, para tornar claro o que ainda parece obscuro: considero importante enxergar as coisas com clareza, aprender a dar explicações mais consistentes e argumentos mais embasados. Aceito a crítica ao saber, aceito o furo no saber, o ponto de impossibilidade em todo o saber, o enigmático e inacessível, que Lacan chamará de "Real". Esse é o tipo de formação que é possível se ter, a diferença está na forma como a gente se apropria do conhecimento, cuidando para não nos alienarmos a ele. (Faço aqui uma passagem pelas aulas da Nádia). 
"Estou no 8º período, já tenho um bom conhecimento sobre como as pessoas funcionam..." Lembro de um grande amigo dizer isto quando eu ainda era caloura. Nesse momento atribui a ele um ar de autoridade, supus, ali, um saber que, mais tarde, entenderia como acabo de descrever. Ainda que ele seja uma figura de referência para mim, hoje sou eu quem tem esse "bom conhecimento sobre como as pessoas funcionam" e posso dar garantias de que não é uma queda muito grande e dolorosa a da idealização ao destronamento e rechaço do "mestre", que entendo também a desimplicação do sujeito histérico e culpabilização do outro (graças a leituras de Quinet). 
Mas, de tudo, algumas lições que considero de maior relevância, são infelizmente levadas à revelia: Nunca ponha entre aspas aquilo que não foi dito por outrem, assuma o que você diz, o que você nomeia. Nunca nomeie ninguém, você nunca terá propriedade suficiente para isso. Apontar as falhas do outro nada mais é que uma tentativa vã de tamponar as próprias falhas e impossibilidades. O exercício da autocrítica e esforço de autoconhecimento te faz sentir menos injustiçado pelo mundo e pelas pessoas, traz ganhos para si mesmo e para o próximo. Quanto mais saber você acumula ao longo dos anos e dos estudos, mais generoso você fica com esse próximo, tantas vezes distante. E acredite na voz de quem te fala, ou de quem te cala, porque ela existe, ela sempre esteve ali.

segunda-feira, 18 de março de 2013



Eu fico pensando... por que há essa cisão entre o sagrado e o profano, entre o sórdido e o imaculado na nossa época...? Ou se é santa ou puta, o meio termo é proibido. E, sei lá, talvez para se chegar nesse pretenso meio termo, há que se passar pelos extremos antes mesmo. Aí, tem gente que vai aos extremos, mas por lá fica, não retorna, não transcende, não assimila...
Uma das coisas que mais me entristece nas relações é que essa dicotomia entre afeto x sexualidade parece uma barreira, é tão difícil vivenciar os dois lados com uma pessoa só, é tão difícil integrar esses dois lados numa pessoa só, na gente mesma. A dor da separação não é apenas do outro, talvez seja mais radical, seja dessa separação do afeto e do desejo, não sei...
Fiquei pensativa...
Meu conflito é grande demais: Eu quero o puro, o romântico, o belo, o seguro, o amor correspondido. Mas eu amo o sórdido, inescrupuloso, o incerto, o risco, o desprendido...
Eu amo demais o mundo, a vida, a sexualidade... amo tanto que nem cabe em mim, é uma vontade de viver, sentir, amar que nem se encaixa nos limites do meu corpo!
Bem, nem sei por que estou escrevendo tudo isso, acho que quis mesmo desabafar, me "desnudar" para alguma opinião, crítica, reflexão... que me são sempre importantes.
O que escrevo aqui não se trata de culpa ou arrependimento. Eu não me submeto, eu me meto, porque bem quero. Não estou sob, "sub" a nada nem a ninguém. Eu não me submeto a situações potencialmente adversas, eu me sujeito a elas. Existe ali um sujeito que atua, que faz as escolhas e pode entrar e sair de cena quando bem entender. 
Eu sei o que eu faço, eu sei bem o que eu quero e eu sempre conheço o chão que eu piso. Eu tenho a escolha, eu posso não pisar se eu não quiser, e não causaria sofrimento. Ninguém pode quebrar meu coração porque ele já veio partido e eu aprendi a lidar com isso. Nada pode ser tirado de mim porque nada me pertence, eu não sou dona de nada, eu tenho o nada.