domingo, 27 de novembro de 2011



Não nos comunicamos mais, seja lá qual for o caminho para isso. 
Nossos corpos não se compreendem, não falam mais a mesma língua.
Nossa língua não obedece mais o nosso desejo, não diz o que tem que dizer.
Desencontros e desencontros... estando um ao lado do outro.
Já não sei mais quando realmente devo pedir desculpas.
Nem sei quando foi que ficou tudo tão errado, tão perdido.
Tampouco sei o que fazer para mudar isso.
O silêncio, insustentável... insuportável.
Ausência física para suportar todas as outras ausências.
Tudo dói, na flor da pele.

Word has temper...

Palavra tem temperamento. 
É bom ter cuidado com elas.

Heaven help me! I need to make it right...



"You are the hole in my head
You are the space in my bed
You are the silence in between
What I thought and what I said

You are the night-time fear
You are the morning when it's clear
When it's over your start
You're my head, you're my heart"

sábado, 26 de novembro de 2011



Assim, feito Virginia Woolf... Querendo vestir meu casaco, encher os bolsos com pedras e me afogar no Rio Ouse.





"Passava como uma navalha através de tudo; e ao mesmo tempo ficava de fora, olhando. Tinha a perpétua sensação, enquanto olhava os carros, de estar fora, longe e sozinha no meio do mar; sempre sentira que era muito, muito perigoso viver, por um só dia que fosse".

segunda-feira, 21 de novembro de 2011




Escrevo porque sou escrava 
do escárnio dessa minha escrita.
É como escarrar as impurezas
desse coração descomedido e escancarado.


Hoje me disseram que,
quando alguém tá na beirada da piscina e não pula,
um outro vem e empurra. 


Eu topo dar esse salto, 
mas a água ainda tá gelada
e eu to tremendo de frio
e de medo de não dar em nada.


"É que eu não sei nadar"
disse o sapo encabulado.
"Eu até sei pular, mas nadar
eu não nado".


Mas que bicho inseguro,
parece que andou se esquecendo
que girino é peixe d'água
e sapo já nasce sabendo.

domingo, 20 de novembro de 2011



Toda dor pode virar poesia...
Posso metrificá-la, colocá-la em rimas, metáforas, metonímias...
Que seja parte pelo todo, até perder o todo de vista, 
e a dor, toda em partes, não machuque, não desgaste.
Quase toda poesia pode ser um trabalho,  
e quase todo trabalho é também poesia:
o teatro, a música, a dança, a literatura... poesia!
Meu trabalho vem de uma fonte inesgotável:
vem do sentimento, e da palavra que traduz esse sentimento em arte,
em matéria que pode deslizar na superfície desse mundo que conhecemos, o mundo do real.
A palavra é uma fonte inesgotável.
Enquanto houver sentimento vai haver palavra.
Enquanto eu viver e sentir, eu vou ter o que dizer, o que escrever, o que transformar em arte.
Enquanto eu sentir, não me faltará matéria-prima.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

ʚɞ Um tempo de presente para nós...


Estou cheia de me esforçar para estar junto, e de gastar meu tempo e minhas energias pensando em um "nós" indefinido, que nem sequer existe. 
Eu disse que eu ia até onde eu podia sustentar... talvez eu não possa mais. Ou, pelo menos, não possa mais nutrir esse amor, tão puro e tão forte, que me corta por dentro como uma lâmina afiada cada vez que esbarra na sua indiferença.
Eu poetizei toda a sua liberdade, para deixá-la bonita, admirável... aceitável. Tentei esculpi-la e dar a ela uma forma com a qual eu conseguia lidar, conceber. Mas a liberdade, que eu lapidei para amar, agora me parece corrompida pela libertinagem, e eu não a quero assim, não a aceito mais, não tem mais beleza alguma.
Eu tentei sustentar o quanto pude. Tentei não sentir ciúmes, porque me disseram que é feio senti-lo. Mas eu nunca fui alguém com os sentimentos mais nobres... 
Tentei não me incomodar, não me angustiar por não saber por onde você andava durante todo esse tempo... 
Mas não, não funciono assim! A minha máquina está programada para ser humana e sentir tudo humanamente, sentir o amor, cheio de vícios, tal como ele é. O sofrimento é desumano e todo mundo sofre humanamente. E agora sou eu quem escolhe ter todo esse tempo para andar e descobrir aonde consigo chegar. 
Ponho-me a esperar, esperar aquilo pelo que não tenho nenhuma expectativa. É apenas uma pausa na engrenagem do meu coração, uma pausa pra me recompor e recomeçar mais devagar... Preciso aprender a cuidar de mim e a proteger meus sentimentos. Necessito agora afastar-me do outro e ter um encontro comigo mesma. E por quanto tempo? De novo o tempo... nunca sei o quanto pode durar, o tempo de que preciso é impreciso. 
Por onde você andou por todo esse tempo? Esse tempo, essa distância, vai me consumindo aos pouquinhos, e a vida vai se esvaindo devagar... 
Mas esse tempo, esse tempo foi importante... foi importante pra eu ver que você não sente minha falta, não sente vontade de estar comigo, não tem saudades. Foi bom pra eu entender que não tenho importância nenhuma na sua vida, que não significo nada pra você.
Hoje é um daqueles dias que você acorda e a cabeça dói pelo excesso da noite passada. A ressaca não seria tão pior se eu não tivesse cometido tantos erros... Como pude ser tão sacana com meu coração, com meus sentimentos...? Nenhuma cama em que eu deitar vai ter o mesmo calor da sua, nenhum abraço vai ser tão acolhedor quanto o seu... Minhas mãos buscavam seu corpo, meus ouvidos queriam a sua voz... era você quem eu queria ali, você! 


Mas por onde você tem andado todo esse tempo...?

Não sei por quê Deus coloca o amor no coração de quem não sabe 
dosá-lo!

quarta-feira, 9 de novembro de 2011


Estava, e ainda está, tudo tão indefinido, tão incerto, tão inseguro... 

Eu tentei sustentar o quanto pude, fingir que não me incomodava com o formato que minha vida ia tomando...
Não, não funciono assim.
Eu não me reconheço em nada, não me vejo em nenhum papel e nem dentro de cena nenhuma, não me encontro!
Preciso me significar por alguma coisa, agora que aquela representação já se tornou insuficiente para isso. 
Como tenho gasto minhas energias para me encontrar, para me significar de alguma outra forma, por alguma outra coisa que não o "pathos"!!! 
E como tem sido difícil! 
Ajudaram-me a desconstruir a minha lógica louca, errada... Mas me abandonaram no momento de refazê-la do jeito certo, e olha só, pombas, eu preciso de uma lógica pra viver! 
Desataram os nós que eu havia feito nas minhas amarrações de significantes, já não sou aquilo que eu era antes, me perdi daquilo que eu enxergava sobre mim, e agora... agora me angustio por estar tão solta, com essa sensação de quase nem SER. 
Quem sou enquanto sujeito? Não sei mais, e tudo que faço é tentar desesperadamente fisgar os ganchos que me aparecem e que parecem me levar a um meio de me ter de volta, por outros caminhos, com outros sentidos, 
mas que haja um sentido!


Aaah, a dança... é ela quem me recebe, com meus medos, angústias... e me abraça, me aquece, me liberta e me lança num movimento de despertar, de deixar a luz que entra pela retina iluminar, acender e ascender todo o meu mundo interior.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011



A palavra
Pablo Neruda

Sim Senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam ... Prosterno-me diante delas... Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as ... Amo tanto as palavras ... As inesperadas ... As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem ... Vocábulos amados ... Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho ... Persigo algumas palavras ... São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema ... Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas ... E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as ... Deixo-as como estalactites em meu poema; como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes da onda ... Tudo está na palavra ... Uma idéia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que a obedeceu ... Têm sombra, transparência, peso, plumas, pêlos, têm tudo o que ,se lhes foi agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes ... São antiqüíssimas e recentíssimas. Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada ... Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos ... Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas .Américas encrespadas, buscando batatas,butifarras*, feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele apetite voraz que nunca. mais,se viu no mundo ... Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas grandes bolsas... Por onde passavam a terra ficava arrasada... Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras. Como pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes... o idioma. Saímos perdendo... Saímos ganhando... Levaram o ouro e nos deixaram o ouro... Levaram tudo e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras.

domingo, 6 de novembro de 2011


Passar a tarde toda deitada ao lado da pessoa que você ama, ouvindo ela falar bobagens ou divagar sobre assuntos mais ou menos sérios.
Encostar a cabeça em seu peito, receber um cafuné, uma canção boba ao pé do ouvido.
Sentir seu rosto queimando de desejo.
Entregar meu corpo na leveza do seu ser.
Acomodar-me e me esquecer, deitada sobre a opulência do seu corpo, sobre a textura quente da sua pele.
É essa a paz que eu sempre desejei, é essa a tranquilidade pela qual eu tanto esperava. 
O sorriso surge de leve no canto da boca.
Eu esqueço completamente de mim e desejo mais que tudo fazê-lo feliz. 
Admito que amo desajeitada 
e que tenho medo de cair nas mesmas armadilhas de antes, 
montadas por mim mesma, na brincadeira de amar desregradamente. 
Mas agora amo amadurecida e vou cuidar desse amor. 
Excesso inábil de amor, que de tanto, transborda. 
Tudo o que eu peço é que não tenha medo, porque eu mesma tentarei não ter. 
Aceito minha condição de amar tão abruptamente, permito-me. 
Não sinta medo e receba meu amor, por favor, aceite-o. 
Como dizia Lacan, amar é dar aquilo que não se tem. 
Eu não tenho esse amor que te dou, e mesmo assim, amo. 
Deve ser muito bom sentir essa sensação de ser amado, investido libidinalmente, diriam os psicanalistas... 
Eu quero um dia poder sentir isso também ... 


Já faz uns dias que a poeira tem cegado meus olhos, tem feito eles ficarem vermelhos, queimando.
Eu sei que no fundo algo está errado, e já não precisa mais ir tão a fundo pra sentir e perceber isso.
Pensamentos indesejáveis que se repetem, repetem, re pe tem...
É tudo tão passageiro que quase nem existe.
É tudo tão verdadeiro que parece até mentira.

sábado, 5 de novembro de 2011

Para os Sapos.



Restituirá os restos e romperá com aquilo que a retalhou.
Há de reerguer o rosto, reconstruir os risos e se recompor.
Será rato que escapole da ratoeira, e peixe que, dentro da rede, é remador.
Ave de rapina, predador
nessa terra onde o risco de morte cresce sobre a vontade de estar vivo.
Nessa terra onde sapo pula, não por boniteza, mas por precisão.