sexta-feira, 29 de junho de 2012




Há muitas maneiras de ferir um coração. Temo que a mais sutil seja aquela que mais demora para ser curada. 
Tanto no amor quanto na amizade, é como se nos despíssemos para o outro. A nudez da alma é frágil, ela se expõe muito mais que a nudez do corpo. A alma, fragilizada e entregue, revela algo do sujeito que só se vê com o olhar de alma.
Os olhos do corpo se enganam e deformam a verdade.
Esse encontro de almas, esse amor que tudo revela, caminha num fio de lã. Ao mero descuido perde o equilíbrio. Muitas vezes queremos ver a alma com os olhos do corpo, forçando-a a assumir um contorno que não tem. Damos a ela palavras que a a limitam, querendo subordiná-la e encarcerá-la no campo da linguagem. 
Alma não se explica, amor não se explica. 
Abrimos grandes feridas ao tentar tocar a alma com as mãos.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Corpo Cárcere

                                           Foto: Brooke Shaden

"My brain and my bones don't want to take, this anymore, so
Why...?"


Vamos, não chores...
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o 'humour'?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 18 de junho de 2012

                                                Foto: Brooke Shaden
Ainda carrego comigo as mesmas manias...
as mesmas crenças deturpadas
a mesma imagem distorcida
a mesma saída encurralada
o mesmo prato de comida
que me deixa insaciada 
a mesma dose de bebida
é mesmo água envenenada
o mesmo modelo suicida
de vida bem-aventurada.

"Sorria sempre. Seus lábios não precisam traduzir o que acontece no seu coração." 
C. Lispector

sexta-feira, 15 de junho de 2012


                                                   Foto: Brooke Shaden
Você era meu norte, meu forte... Por alguns momentos eu senti um vazio muito grande e me senti muito perdida com a sua ausência. Mas por inconsequência minha, por colocar tudo de mim em uma pessoa só.  Eu precisei ficar à mercê das consequências desse erro, sozinha, pra perceber, entender.  
Eu sinto tudo muito perdido ainda.  É difícil sentir afeto, sentir verdade no outro. É difícil caminhar sem enxergar alguma direção.  
Mas eu entendo você. Eu sei que a maior parte das pessoas não estão preparadas pra receber esse tipo de sentimento. O que eu sinto acaba virando excesso, sobra emocional. Perde a beleza, apodrece, me intoxica. 

terça-feira, 12 de junho de 2012


"Tengo miedo del encuentro
con el pasado que vuelve
a enfrentarse con mi vida...
Tengo miedo de las noches
que pobladas de recuerdos
encadenan mi soñar...


Pero el viajero que huye
tarde o temprano detiene su andar...
Y aunque el olvido, que todo destruye,
haya matado mi vieja ilusión,
guardo escondida una esperanza humilde
que es toda la fortuna de mi corazón."


Volver - Estrella Morente

domingo, 10 de junho de 2012

                                                                          Foto: Juni Resende.
Leben ... Liebe
Parque Municipal - Belo Horizonte, MG. 

quarta-feira, 6 de junho de 2012

                                                           Foto: Brooke Shaden

‎"Eu admiro o que não presta 
Eu escravizo quem eu gosto 
Eu não entendo 
Eu trago o lixo para dentro 
Eu abro a porta para estranhos 
Eu cumprimento 
Eu quero aquilo que não tenho 
Eu tenho tanto a fazer 
Eu faço tudo pela metade 
Eu não percebo 
Eu falo muito palavrão 
Eu falo muito 
Eu falo mesmo 
Eu falo sem saber o que estou falando 
Eu falo muito bem 
Eu minto."
Tudo Pela Metade - Marisa Monte.

domingo, 3 de junho de 2012


 
Na minha trajetória acadêmica eu sempre estive muito próxima à área da saúde mental. Nesse campo, a gente aprende que não importa se o conteúdo do delírio é realmente verdade ou não e que, o que caracteriza o delírio é o estatuto de verdade, irremovível, que o psicótico dá a ele. A gente deve ouvir o delírio, e não procurar pontos de verdade e de mentira nele.
  Nesse aspecto eu me dei bem, sempre gostei muito de ouvir histórias, sem me importar com o quanto de real ou fantasia elas continham. A nossa vida está cheia dessas histórias, cercada por pessoas que "deliram" o tempo todo e o pior, nos levam junto nas suas crenças sobre si mesmas. E nós? Quantas vezes contamos falsas histórias sobre nós mesmos, sobre o que somos, ou pensamos ser, sobre o que sentimos, fazemos...
  Contamos tantas vezes para o outro que chegamos mesmo a acreditar na nossa própria invenção, no nosso delírio. Auto-afirmação? 
  Nossa auto-imagem é tão frágil, fragmentada, que é preciso sim criar histórias, florear o que existe de minimamente verdadeiro para que se torne talvez um pouco mais interessante. É difícil ser interessante hoje em dia. 
  A verdade é só uma mentira muito bem contada, já dizia Monteiro Lobato na voz de sua personagem Emília. Da mesma janela se vê cem paisagens diferentes, e se narram mais outras cem, tudo é muito relativo. O que você enxerga de mim? Quem vai dizer que não é mesmo a verdade do que eu sou? A sua verdade incide sobre mim e a forma como você escolhe me ver ou eu escolho me apresentar para você é sim uma das cem paisagens da janela, uma das cem facetas do meu ser. 
  Vivemos uma psicose bastante perigosa, não? Afinal, ela se disfarça sob o olhar do outro, não se deixa às claras, engana, arrasta os que estão próximos. É tudo isso assim tão louco que chega a passar despercebido.

Por tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu caçador de mim


Preso a canções
Entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar
Longe do meu lugar
Eu, caçador de mim






Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito a força, numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura


Longe se vai
Sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir
O que me faz sentir
Eu, caçador de mim