domingo, 29 de abril de 2012

A Dança e a Alma

                                                                    Foto: Broke Shaden
A dança? Não é movimento,
súbito gesto musical
É concentração, num momento,
da humana graça natural.
No solo não, no éter pairamos,
nele amaríamos ficar.
A dança - não vento nos ramos:
seiva, força, perene estar.
Um estar entre céu e chão,
novo domínio conquistado,
onde busque nossa paixão
libertar-se por todo lado...
Onde a alma possa descrever
suas mais divinas parábolas
sem fugir a forma do ser,
por sobre o mistério das fábulas.


Carlos Drummond de Andrade

29/04 Dia Internacional da Dança


Que a dança me mostre um caminho. 
Que essa busca por espaço no mundo termine um dia, 
que eu consiga me encontrar em algum lugar seguro 
e que lá eu ouça o som da guitarra flamenca, 
a palma e o cante. 
Que eu seja capaz de reconhecer a imagem no espelho 
e dizer com firmeza pra qualquer um o que sou, 
o que faço, 
do que gosto 
e do que sou capaz. 
Que a onde eu vá meu corpo esteja leve, 
se expanda, 
e que o desejo de aprender 
e de bailar 
nunca morra dentro de mim. 
Que dançar sempre seja uma oração, 
continue sendo meu jeito mais humilde, 
simples e direto de comunicação com Deus. 
Amém.

sábado, 28 de abril de 2012


O que me angustia é pensar que o que estou sentindo agora pode não fazer sentido,
pode não ser lembrado amanhã,
pode ser risível por outra pessoa,
pode ser ridículo aos seus olhos se você soubesse,
certamente seria.
Esse choro descompensado pode ser de raiva por estar passando por isso outra vez,
por estar me confundindo de novo,
por ter que me esforçar pra relembrar e entender cada palavra, cada movimento, 
pra buscar o motivo exato dessa dor tão grande.
Por já saber como é doar demais e receber de menos,
por já ter estado aqui tantas vezes e conhecer o exato amargor de esperar muito de quem não se deve esperar nada.
Às vezes acho que preciso do outro pra encontrar a mim mesma, 
que tem algo no outro que procuro em mim. 
É como hastear bandeiras em territórios que se vai conquistando, marcando o caminho... referências.
É preciso se guiar de alguma forma, por algo que está externo a si. 
Eu preciso do outro.
Mas cada bandeira hasteada é também uma estaca fincada no chão.

O mal de ter um coração absurdamente grande é que ele acaba trombando em tudo, em todos. Eu tenho mesmo que corrigir esse coração infantil, que vive se esfolando por aí. Chega a ser bobo pela facilidade com a qual se emociona e se alegra, mas não toma nenhum tipo de cuidado e se machuca pra caramba nos esbarrões que vai levando todo dia.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Maquiagem: Cacá Zech. Teste de clown, Sapos e Afogados.


Às vezes é bom poder experimentar mais de um personagem numa só cena.
Se a vida me obriga a assumir um papel, que seja ele tão fluido quanto a minha personalidade.
Gosto do lado negro tanto quanto carrego o lado branco comigo,
e aprendi a atuar com cada um, sem medo, sem culpa.
É mais que teatro, é mais que cinema, é vida real!
O Yin Yang, a dualidade, os antagonismos estão sempre aí,
causando contradições e revoluções internas.
Que seja feita a revolução! 
Que se quebrem algumas asas de cisnes brancos para que apareça a verdadeira feição do ser.
 


Tanto faz de onde ele vem, se o excesso dele pode ser corrosivo, tudo está certo desde que ele se mantenha comigo. Nunca se sabe quanto tempo ele vai ficar, mas enquanto ele estiver comigo, enquanto eu não o perco, eu sei que está tudo bem.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Ensaio - Guto Teixeira.

Ao tempo que o Vazio pode ser tão perturbador, desafiamos seu aspecto atraente, e ousamos explorá-lo! No vazio de fora, (uma fábrica abandonada), procuramos o vazio de dentro, tentamos encontrá-lo e registrá-lo fotograficamente. Do vazio é possível enxergar a angústia. Não é fácil expressar e fotografar o nada. Talvez por isso esse ensaio tenha me remetido à frase de Paul Valéry, poeta francês do séc. XX: 
"O mais profundo é a pele."

Foto: Lissy Elle.
4:00 da manhã, eu ainda acordada, escrevendo uma carta que sei que não vou mandar.
Só mais uma, entre tantas outras que escrevi e não chegaram a sair da caixa
onde guardo seus pertences, as cartas que trocamos, 
e as lembranças que não quero mais lembrar... 
mas não consigo.
Foram tantas as cartas que escrevi, algumas carregadas de mágoa, raiva... outras doces, sensíveis, compreensivas, outras com aquela cor melodramática que costumávamos colorir quase tudo a nossa volta.
Estão todas lá, sem nenhuma esperança de serem lidas porque não passam de palavras velhas que perderam o sentido. 
Demorou muito mas eu entendi que nem tudo precisa ser dito, que tem coisas que podem sim ser guardadas só com a gente, que talvez só a gente vá entender, ou só a gente mereça entender... 
Eu quero ver o amarelar do papel de cada uma daquelas cartas e dizer: é meu, eu me dei essas verdades, essas palavras são minhas e só eu as compreendi profundamente. E esse tempo que torna esse papel amarelo foi um dos maiores presentes que pude me dar. Respeitar esse tempo que entra em tudo, até na minha gaveta, na caixa onde estão minhas cartas, deixando todas elas amareladas, é uma grande lição.

domingo, 15 de abril de 2012

                                                                 Foto: Lissy Elle
Eu queria te dar um pouco mais que meias respostas
e te oferecer um pouco mais do que só isso que me resta,
mas é que tenho sido tão pouco pra mim mesma,
tão insuficientemente eu.
Ainda não é tempo de colher as flores do outro lado da estrada,
as flores são de vidro e quebram. 
As pétalas cortam mais que espinhos porque nos esconde sua maldade.
Qualquer jardim vira fácil campo de batalha, 
nos atingimos com pétalas de flores sem perceber que os espinhos cravavam em nossos corações.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Lissy Elle: Get Back In Your Book.


Alice Edition.

Sleeping Beauty Edition.

Beauty and the Beast Edition.

Wendy Edition.

Harry Potter Edition.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Nada Tanto Assim - Kid Abelha



Conheço quase o mundo inteiro por cartão postal 
Eu sei de quase tudo um pouco e quase tudo mal

Eu tenho pressa 
E tanta coisa me interessa 
Mas nada tanto assim

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Foto: Lissy Elle.
Não era bem essa a questão que eu pensei que ficaria pendente no decorrer da minha vida. Pensei que seria uma paixão, um relacionamento mal resolvido, como é o costume da maioria. Mas não, hoje me veio a certeza, vai ser esse o meu presente-grego, com o embrulho mais difícil de desdobrar que eu já vi. E como eu queria desembrulhar logo, resolver logo a questão! Sempre era a primeira da turma a chegar com o resultado das equações de segundo grau para o professor, que desafiava a turma com aquelas contas aparentemente impossíveis.
Hoje eu cheguei quase com a mesma inocência de uns tempos atrás, quando eu ia buscar a solução de um problema sem pedir uma explicação teórica, só a solução... Mas hoje eu queria mais, queria aprender, apreender, eu estava em outro posto, a solução já não era tão mais urgente, a teoria era importante, e a solução, aaah, a solução... a tão sonhada solução... ainda um desejo.
E então eu ouvia tudo com os ouvidos atentos e absorvia cada palavra. Tinha as respostas de cada pergunta e crítica que, silenciosamente, eu fazia naquela época, para aqueles ouvidos que se pudessem escutá-las, lá atrás no passado, teriam feito uma escuta diferente, enviesada por Lacans e Freuds. Creio que vi maisjustificativas que respostas. Faz diferença. Ainda mais quando se trata de... e se trata de. Mas me deixe com minhas críticas, porque elas nunca me deixaram, desde então.
Retomando... eu questionei, eu queria mesmo saber, como e quando se sai de lá. Era uma forma de perguntar se um dia, quando, se ao menos um dia, seria possível ficar bem. Uma pergunta tão simples, com opções de respostas assustadoras, pois: se sim, pode-se dizer que sai quando o corpo melhora. E então eu perguntaria para onde foi o sujeito e todo o discurso de "tratamos o sujeito"? Se não, é possível que pessoas fiquem lá por anos ou nunca saiam, morram, sei lá. Mas, foi uma pergunta sem resposta. O que deixou-se a saber foi que nunca se tem uma recuperação completa, sempre fica um rastro do que se foi, um rastro que vai marcando seu caminho ao longo da vida, por onde você passa, por onde você se senta para comer.
E o menino burro, que não consegue resolver o desafio de matemática em casa, vai embora frustrado, porque o professor também não pôde dar uma solução.


"Tenho medos bobos e coragens absurdas." 
Clarice Lispector


segunda-feira, 9 de abril de 2012

 Foto: Lissy Elle 
Eu não quero entender mais do que o necessário. E foi necessário eu entender que quanto mais vou me munindo de explicações, mais me distancio da funcionalidade delas.