domingo, 30 de outubro de 2011


"Consegui meu equilíbrio cortejando a insanidade,
Tudo está perdido mas existem possibilidades."

sábado, 29 de outubro de 2011

Que Tempo é esse que não dança no mesmo ritmo que eu? 
Esse Tempo já não me pertence... 
Eu sou sua súdita, senhor Tempo. 
E danço disciplinada no compá do tic tac dos seus ponteiros. 
Vai tiquetaqueando, vai... 
Mas suponho que saiba que agora é a hora de parar, 
porque depois do giro completo, aaah, não há Tempo que me prenda numa realidade onde não toca a mesma música que escuto aqui dentro da minha cabeça... 



"- Se você conhecesse o Tempo como eu conheço - disse o Chapeleiro - você não falaria em perder Tempo como se ele fosse uma coisa. Ele é alguém.
- Não entendi - disse Alice.
- Claro que você não entendeu - disse o Chapeleiro, balançando a cabeça com desprezo. - Tenho certeza que você nunca falou com o Tempo.
- Talvez não - respondeu Alice com cautela -, mas sei que tenho que bater o tempo quando estudo música.
- Ah, isso explica tudo - disse o Chapeleiro. - Ele não suporta apanhar. Agora, se você falasse com ele com educação, ele faria com o relógio o que você quisesse. Por exemplo, se fosse sete da manhã, a hora de ir para a escola, você só precisava cochichar para o Tempo, e o relógio, num piscar de olhos, pulava para o meio-dia: hora do almoço!
- Isso seria ótimo - cochichou a Lebre de Março para si mesma."
Lewis Carroll


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Um dia desses...






Pela manhã, troquei de roupa várias e várias vezes, chequei a bolsa insistentemente... O atraso foi tanto que fui até à esquina e voltei, não daria tempo, não daria mais tempo... O coração acelerado e angustiado, sem saber o que fazer e como compensar aquele erro, aquela falta.

À tarde, o mesmo ritual: Nenhuma roupa serve, cabe, combina... 
Não sei o que colocar na bolsa, o que levar, do que posso precisar, mas não quero ter que carregar muito peso...
Estou de novo atrasada! E o coração acelera de novo, sinalizando que as coisas estão saindo do meu controle...

Enquanto andava, sentia o chão inseguro, a rua insegura, tinha medo de cair, tropeçar, a qualquer momento. Tinha medo de andar, como quando eu era criança e tinha medo de andar e subir escadas. 

O sol era forte e me incomodava também, mas eu queria que fosse possível que meu corpo se desintegrasse naquele momento com a luz do sol. Eu queria sumir no meio de toda aquela luz, calor e barulho. 

Eu pensei e pensei a tarde toda o que podia estar me incomodando tanto? Olhava para mim buscando algum erro, alguma coisa fora do lugar na roupa, mas não, estava tudo certo com a roupa, eu pensava. Tantas vezes eu me olhei no espelho buscando o que eu nem sei o que era... 

A bolsa, a bolsa parecia que estava vazia. Pensava, pensava... o que eu poderia ter esquecido... o quê, de tão importante, que me faz tanta falta...
Sentia aquela angústia de quando a gente sonha que foi de pijama ou sem roupa para o colégio, sabe? O quê eu esqueci??? 

A sensação de que a bolsa está vazia, de que eu não estou levando comigo algo muito importante de que eu vou precisar, só reflete um profundo desamparo! 
Sinto medo, profundo, de viver, e não tenho nada a que me apegar para me proteger. 

A minha bolsa está vazia. Eu estou vazia. Eu não estou levando nada a lugar nenhum. O que vou dizer para as pessoas que tenho que encontrar, nos lugares aonde tenho que ir??? 
Eu não tenho nada a levar comigo, estou vazia e desprotegida. É isso que está tão errado e fora do lugar! 

É tudo tão verdade que parece até mentira.



Tudo soa falso, para quem é sensível demais, porque as pessoas duvidam, então você oscila.
Parece falso sentir tudo tão à flor da pele. E eu, comigo mesma, não sei o que é falso e o que é verdadeiro. Confundo-me.
Deito no divã e, de uma voz trêmula e angustiada, entrecortada por pequenos choros, eu me recomponho, fico séria e sem expressão. Logo estou falando normalmente e sou capaz até de rir e destilar ironias. Tudo isso num intervalo de tempo tão insigificante que é capaz de surpreender a mim mesma.
Sou a típica histérica que eu não toleraria por dez minutos. Tudo em mim parece falso, teatro, e quem quer que veja de fora não teria dúvida disso! Acontece que aqui dentro não é assim que funciona. Acontece que aqui dentro existe um tempo próprio, uma maneira lógica de funcionar, que não condiz com o mundo de fora, o mundo dos sãos, mas que não tira a legitimidade do meu mundo, de tudo o que eu sinto e da maneira como sou.
Não vivo uma vida falsa, mas essa inconcretude dela me faz sentí-la falsa. Às vezes não sei nem se eu vivo... queria poder tocar na vida pra ter certeza. Eu existo? Eu estou aqui, não estou? Ás vezes só sinto tudo passando, como num filme, e a vida vivendo sozinha, por si só. E eu sem saber se estou nela, ou se posso interagir...
Uma angústia de não existência, é como se, mesmo sabendo que eu existo, eu não visse sentido nisso porque eu não me sinto. Eu vejo e sinto as coisas a minha volta, a vida correndo, mas eu não me sinto, eu não sinto nada dentro de mim, eu não sinto o que sou, se sou alguma coisa, se tenho alguma coisa que se pode chamar de... personalidade? Tipo... algo meu, que é só meu, que me define, que me caracteriza, gostos, prazeres, escolhas, opiniões, sei lá... personalidade. O que sinto é uma ausência disso tudo, uma ausência dentro de mim, ausência de mim mesma. Eu me sinto estranha, agindo como se não fosse eu, como se não fosse por mim, como se eu precisasse sempre de um Outro para que eu tenha um Eu. 
Sinto-me assustada com isso.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Escrevo no braço por falta de espaço.
Escrevo na mão por faltar opção.





O papel em pedaço recebe o traço que é o laço que faço comigo.

Se falta papel, meu corpo é leito das minhas palavras.
Se falta palavra, meu corpo me recebe.

Tenho vergonha do que escrevo às vezes...
excesso de sentimentalismo.
Sou toda emoção e isso me constrange,
mas gosto de escrever mesmo assim, é meu melhor prato de comida, me sacia.
E não tenho pretensão nenhuma de ser uma escritora renomada da academia brasileira de letras.
Vou continuar sendo a poeira cósmica no universo...
mesmo assim, feliz.



19 de Outubro.


Certa vez uma bruxa branca, Wicca, leu minha mão e disse que quando eu fizesse 21 anos a minha vida ia mudar muito. Disse que, o que até então eu conhecia sobre o amor, ia tomar outra configuração, porque entraria na minha vida uma pessoa que transformaria tudo, que me faria sentir as coisas de forma diferente. E os meus relacionamentos, até o momento tão rarefeitos, iriam se solidificar a partir da presença dessa pessoa na minha vida.
Não acredito em bruxaria, e às vezes não acredito nem no amor, mas lembrei-me disso há poucos dias, e por um momento parece que meu coração se encheu de esperança. 
A possibilidade de reconstruir, recomeçar, mudar, faz com que, talvez pela primeira vez, eu sinta vontade de comemorar meu aniversário, e me sinta feliz por ele.
Ainda sinto um desconforto em passar a limpo minha história, constatando que o saldo de mais um ano é negativo e que não soube usar o tempo a meu favor, negligenciando a vida, que corria ligeira sem que eu nem sequer percebesse sua fugacidade... 
Olho-me no espelho, a pele, o sorriso, o próprio olhar... é tudo diferente, um ano a mais de histórias, um ano a mais... mas carregam a mesma essência, a essência daquilo que transpassa o tempo e nunca muda.
Não, não estou triste, pelo contrário: sinto uma felicidade aqui dentro que talvez nunca tivesse experimentado nos outros aniversários. Uma felicidade pulsante, que faz meu coração bater mais rápido... Acho que a bruxa cometeu um erro de cálculo, pois compreendi o amor, e ele fez minha vida mudar, um pouco antes de chegar aos 21. Sinto-me cheia de alegria por, a partir de agora, poder continuar essa mudança, amar um amor amadurecido e límpido e aceitar a vida, de peito aberto, tal como ela é.
"Quando penso em alguém, é por você que eu fecho os olhos... Sei que nunca fui perfeito, mas por você eu posso ser... 
Posso brincar de descobrir desenho em nuvens, posso contar meus pesadelos e até minhas coisas fúteis, posso tirar sua roupa, posso fazer oq eu quiser, posso perder o juízo, mas com vc eu to tranquilo, tranquilo..."

segunda-feira, 17 de outubro de 2011


Eu não sei fazer escolhas, nunca soube. Tenho medo de todas elas.

Sinto-me podre por dentro... 
Aquele gosto amargo na boca, aquele barulho do ranger das vísceras, que grita forte lá dentro... 
Aquele vazio pós hiperfagia...

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

C'est le vent.








Tal qual a personagem "Ana Terra", de Érico Veríssimo, as mudanças em minha vida são anunciadas pelo vento.
Ninguém percebeu, mas ventou bastante nessa tarde, e já faz uns dias que as janelas e portas batem com força, como se fossem se arrebentar com a brutalidade do vento.




segunda-feira, 10 de outubro de 2011


À noite, na cabeceira da cama, é que a gente acomoda o pensamento...
Ele trava um duelo com o sono, insiste muito, resiste, até o sono o vencer.
Não sou muito de rezar, mas acho que meus pensamentos carregam orações em si, 
pois peço, peço muito, a qualquer força maior, divindade, que seja... 
peço pra que aquiete meu coração, peço pra que não mais me deixe sofrer...
peço pra que eu tenha coragem, sim, coragem, de ser o que sou e seguir com o que sinto.
Tenho minhas bíblias e leio, religiosamente, com a fé cega do cristão mais ortodoxo: Anais Nin, Lispector...
entre outros profetas da literatura que parecem ter dito as minhas palavras antes mesmo que eu pudesse pensá-las.
E fico me perguntando: Como alguém é capaz de fazer alquimia com as palavras? Por onde elas brotam? De onde elas saem e por que são tão vivas? 
E a questão que mais me intriga: Por que elas têm esse poder mágico de me tocar?
Sou um ser absurdamente verbal, adoro falar e gosto mais ainda de ouvir. 
Ouço com tanta devoção, absorvo cada pedacinho do dizer humano, cada sílaba, cada fonema... 
Queria poder ler todos os livros, tomar pra mim tudo de todos os universos que existem. 
Parece algo tão simples: entra pela bolinha preta do olho e transforma tudo lá dentro! 
Queria poder entender todos os idiomas... me encanto com sotaques e sou uma curiosa e apaixonada por línguas! 
Quero mergulhar na língua dos surdos/mudos, tenho ânsia de comunicação, impulsos para me gesticular e perguntar coisas e coisas... Como eles aprendem a ler e escrever, como são seus sonhos...?
Acho que tenho licença poética para citar Lewis Carroll: Words has temper! Sim, palavras têm temperamento, sentimento e uma espécie de vida própria, sobre a qual nós somos inteiramente responsáveis. É preciso tomar cuidado também, às vezes elas machucam...
Uma vez, há muito tempo, eu ouvi o Ziraldo falar na televisão: "A palavra é o ápice da alma." 
E se ele pudesse me ouvir, eu diria duas palavras: "Eu concordo!". Eis o que minha alma sente, o que ela é!
Toda comunicação é uma oração! 

sábado, 8 de outubro de 2011

Flores - Titãs e Marisa Monte



Olhei até ficar cansado de ver os meus olhos no espelho
Chorei por ter despedaçado as flores que estão no canteiro
Os punhos e os pulsos cortados
E o resto do meu corpo inteiro
Há flores cobrindo o telhado
Embaixo do meu travesseiro
Há flores por todos os lados
Há flores em tudo o que eu vejo
A dor vai curar essas lástimas
O soro tem gosto de lágrimas
As flores tem cheiro de morte
A dor vai fechar esses cortes
FLORES
FLORES
As flores de plástico não morrem.

Eis que o verbo se fez carne. 
E desde que o mundo é mundo
a gente come a carne e vomita os verbos.
Não há palavra nem saciedade.
Deixei-me dançar ao som dos meus desejos...
Sinto-me como um rio que transbordou.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011



"Deixa-me entrar - pediu - sou teu irmão. Só tu me limparás da lama escura a que me conduziu minha paixão."

A Loucura desdenha recebê-lo, sabendo quanto o Amor vive de engano,
mas estarrece de surpresa ao vê-lo, de humano que era, assim tão inumano.
E exclama: "Entra correndo, o pouso é teu.
Mais que ninguém mereces habitar minha casa infernal, feita de breu,
enquanto me retiro, sem destino,
pois não sei de mais triste desatino que este mal sem perdão,
o mal de amar."

Carlos Drumond de Andrade

Pode entrar, eu queria ter dito, desde o primeiro momento.
Deixe a mochila num canto, tome um banho quente, quem sabe um café...
Experimente tirar um cochilo também...
Pode entrar, eu queria ter dito.
Entre, ocupe todo o espaço, se espalhe pelas minhas coisas, deixe o perfume pelos cantos, pelos objetos...
Pode entrar, eu queria ter dito, desde o primeiro momento, mas não pude.
Eu me conheço suficientemente bem para saber que eu ainda não podia ter você! Eu só posso permitir que você entre na minha vida quando eu for capaz de aceitar que você também saia dela.
Você é livre e eu te amo assim, livre pra si mesmo. 
Não posso prender numa gaiola um pássaro acostumado com vôos altos. Jamais tentaria prender a opulência e exuberância dos condores que sobrevoam as cordilheiras andinas. Sua liberdade é pungente. Amo a sua liberdade.
Eu não podia deixar você entrar assim, na minha vida, na minha carne, no meu ser, enquanto não aceitasse também a sua saída...
Mas quando dei por mim, não havia mais nenhuma resistência, era tarde, você já era parte de mim mesma, porque fazia meu coração acelerar, meu corpo suar... e confundia a minha cabeça, os meus sentimentos... Como algo extra a nosso ser pode atuar dessa forma dentro da gente? 
Só estando aqui dentro também, e você já estava, há muito tempo, muito antes de.

terça-feira, 4 de outubro de 2011


Sinto-me, hoje, como se a vida estivesse me testando, testando a minha paciência, persistência, tolerância, “vamos ver até onde ela vai, até onde ela aguenta”...
Eu, na minha arrogância e teimosia natas, vou insistindo que consigo ficar bem, apesar de. 
A vida me puxa com força pro buraco e eu resisto, puxando com força o outro lado da corda!
Não, eu não vou cair de novo, eu já estive aí outras vezes, eu não vou. 
Por mais força que vc faça, Vida, pra que eu me entregue e desista de tudo, pra que eu caia e cave mais o meu próprio buraco, eu resisto!
Fique conhecendo agora esse meu lado insistentemente teimoso, eu não gosto de perder e não pretendo perder essa guerra que vc parece estar travando comigo!
Eu já caí na sua lábia maldosa algumas vezes, mas aprendi a me proteger dela!
Você tem me mostrado poucas possibilidades ultimamente, tem me tirado as poucas que aparecem, tem me feito cair feito bêbada e chorar feito criança, até dormir!
Eu não entro numa guerra pra perder, e se tiver que ser assim, então que seja, vai ser na marra que eu vou continuar o caminho que eu tenho feito!
Não é a vida que está em guerra comigo, que puxa a corda para o lado oposto ao que eu quero ir... é a morte que se disfarça muito bem!
Vida e Morte se confundem tantas e tantas vezes...
Eu aprendi a usar algumas armas: Ter preferência por resoluções rápidas de problemas, economizar em lamentações e ruminações em torno dos mesmos. Levar no saco de munição um plano B, ou até plano C. Alternativas, várias delas. Excesso de auto-compaixão ou/e auto-repreensão faz mal, mas bem dosadas não.
Sim, eu estou bem. Eu já estive em ambientes bem menos adversos antes e que me causaram males muito maiores! Criei resistências, aprendi truques, estou ficando boa nisso de viver, viver sem maiores danos, tragédias, patologias.
Eu quero continuar bem!