quinta-feira, 31 de março de 2011

You're so mean
When you talk, about yourself
You're wrong, change the voices
In your head
Make them like you instead
So complicated
Look how we are making
Filled with so much hatred
Such a tied game
It's enough, I've done all I can think of
I've chased down all my demons
I see you do the same.



Welcome to my silly life...

sexta-feira, 11 de março de 2011

Carpinejar

"Figo. Assim que eu vejo o amor. Como um figo. Assim que vejo a mulher. Como um figo. 
O figo não tem o caroço apartado do sumo como a maioria das frutas.
Pode-se engolir a semente sem perceber. 
A semente é também polpa. 
Não existe o medo de mordê-lo e prender os dentes. 
O figo é servido para a língua, para o beijo. 
Figo é para ser lambido, não mastigado.
Com a pressão do céu da boca, ele se desmancha. 
Figo não desperdiça o suco. É úmido, como um pão quente. Ele hidrata sem escorrer.  
Goteja pássaros. 
Ele não apodrece, amadurece. 
Não me lembro de figo que fique sozinho no chão. O sol o transforma imediatamente em terra. Ele somente deita aos lábios, ninguém mais. No solo, cai de pé, pronto a germinar. O figo tem os galhos e as raízes em si. 
É o coração da romã. 
Vidraça para o vento desenhar. 
Como a mulher, não há alas separando os quartos, paredes separando as sombras, gomos separando o gosto.
O figo é inteiro, quase um fogo. A alma é corpo, o corpo é alma, ambos se defendem e se revezam. Suas cores são casadas. Por fora, um verde com azul tal rio manso. Dentro, o vermelho se abre  generoso ao amarelo. 
A casca é um vestido fino, um tecido suave, que deveria ser roçado com o rosto. Não poderia ser
chamada de casca, mas de pele. A casca já é parte interna da fruta. O começo tem a lentidão doce do fim. A pele é saborosa como seu suco. Não se usa facapara desenrolar a casca, e sim a unha. Um  pouco decuidado e ela se despe. 
Figo não é destinado a pressa,aos afoitos. 
É fio de riacho a se recolher da pedracom a concha das mãos. 
É passar da esperança reparando na beleza. 
Figo não é o pecado, é o pecador. 
Fruta para ser apanhada direto da árvore, posta junto da camisa. 
Não mancha, lava o dia. 
Nunca é tarde para o figo. 
Nele, os tempos estão sobrepostos. 
Perfume da manhã quando a manhã ainda é noite. 
Não atende a passatempos e urgências. 
Exige dedicação. 
Quem se aproxima do figo, não volta cedo. 
O figo oferece a intimidade da carne enquanto pólen.
O figo são os pêlos loiros dos telhados. 
Como o amor, é macio. Como a mulher, é sensível. 
Completa o ouvido do ramo com a independência de um brinco. Não se dispersa a exemplo do colar. O figo é o chapéu, não a esmola. 
Tem pescoço de um violino. O caule o mantém aceso entre os dois mundos.
O figo não mente seu desejo, mente sua idade. 
Em nenhum momento, se arrepende de ter sido."