sexta-feira, 13 de maio de 2011


Banhar-se... sempre foi mais que o ato de lavar e limpar o próprio corpo. Sempre foi um ritual que eu seguia com uma religiosidade quase obsessiva. O toque delicado das mãos que acompanham o escorregar fluido da água, o próprio toque da água... O barulho da água batendo no corpo e depois no chão faz com que o único som que eu possa ouvir seja o dos meus próprios pensamentos. E nos meus pensamentos eu expulso o que há de sujo, o que dói, o que é ruim. Deixo sair o que há de impuro. Renovo-me como uma criança que acaba de deixar o útero úmido da mãe. Renovo-me para o desconhecido, nasci e agora vou banhar-me em outras águas. Nadei enquanto fui feto e agora me ponho a nadar em águas mais profundas e frias. 
"Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.
Entender é sempre limitado.
Mas não entender pode não ter fronteiras.
Sinto que sou muito mais completa quando não entendo.
Não entender, do modo como falo, é um dom.
Não entender, mas não como um simples de espírito.
O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida.
É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice.
Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco.
Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."


"Exagerada toda a vida: minhas paixões são ardentes; minhas dores de cotovelo, de querer morrer; louca do tipo desvairada; briguenta de tô de mal pra sempre; durmo treze horas seguidas; meus amigos são semi-irmãos; meus amores são sempre eternos e meus dramas, mexicanos!"

Clarice Lispector

quinta-feira, 12 de maio de 2011

"A asma me prendia para perto do corpo e não conseguia ficar longe dele. Nunca tive bonecos para fazer dormir, preocupado em cuidar da sobrevivência e do luxo de uma noite de sono. Eu era meu próprio boneco. Na Educação Física, buscava superar o cansaço e a inapetência respiratória. O professor pedia para dar vinte voltas pelo colégio. Não me agüentava, e ia. Sempre fui quando não me agüentava, a verdade é que sempre sou quando não me suporto. Se o professor dizia que não precisava fazer, eu fazia. Na corrida, condenava-me a ultrapassar a asma, além dos meus colegas. Enquanto todos retornavam à aula de matemática como se nada tivesse acontecido, eu permanecia mais de meia hora no banheiro apertando a bombinha na boca. Nunca respeitei meus limites, como reconhecê-los se não morrer por eles? Não me desculpo por antecedência."
Fabrício Carpinejar 

Segundo que antecede a batida mais forte do coração
Segundo que antecede o descompasso do coração
Segundo que antecede a chegada da lágrima na boca
Segundo que antecede a sensação doce e salgada de lágrima na boca
Segundo que antecede o pensamento desvairado
Segundo que antecede a insistência desse pensamento
Segundo que antecede o fechar dos olhos
Segundo que antecede a imagem que se forma com o fechar desses mesmos olhos
Segundo que antecede o sugar forte de ar como se fosse possível encher-se de vida pelos pulmões
Segundo que antecede o fim.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Como bem pontuou o Ministro Carlos Ayres Britto, primeiro a votar pelo direito dos casais homossexuais ao acesso a todos os direitos previstos aos casais heterossexuais, como herança, pensão e até mesmo adoção: "A Constituição não é manual de anatomia, sendo assim todos merecem tratamento jurídico igualitário e isonômico, independentemente de suas orientações sexuais." 
O resultado desta quinta feira me faz sentir que estamos abrindo caminhos para conquistas cada vez maiores em nossa sociedade. Compartilho aqui toda a minha felicidade!

domingo, 1 de maio de 2011

Postagem pelo dia mundial da dança: 29-04

   “Eu Louvo a Dança,
pois ela liberta as pessoas das coisas,
unindo os dispersos em comunidade.
Eu louvo a Dança
que requer muito empenho,
que fortalece a saúde, o espírito iluminado
e transmite uma alma alada.
Dança é mudança do espaço, do tempo,
do perigo contínuo de dissolver-se
e tornar-se somente cérebro, vontade ou sentimentos.
A Dança requer o homem libertado,
ondulado no equilíbrio das coisas.
Por isso eu louvo a Dança.
A Dança exige o homem
todo ancorado em seu centro
para que não se torne, pelos desejos desregrados,
possesso de pessoas e coisas,
e arranca-o da demonia
de viver trancado em si mesmo.
Oh Homem, aprende a Dançar!
Caso contrário, os anjos não saberão
o que fazer contigo!”
                                Santo Agostinho