domingo, 4 de agosto de 2013

 
   Eu gosto da simplicidade pela qual as crianças lidam com as coisas, gosto de como elas são práticas. Exemplifico com a cena em que meu irmão, de 10 anos, conhece meu namorado:  
   Ele chama Lucas, mas não é qualquer Lucas, pois o Lucas namorado da "minha irmã" é estudante de cinema. Ele tem uma produtora também, é roteirista e diretor. É fotógrafo. Além disso ele tem uma banda de punk rock, é guitarrista e também compõe. Ah, ele fala inglês fluente e deve dar aulas ano que vem. É skatista também, e muito bom em games! 
   Se eu estiver esquecendo alguma coisa me perdoem, sério. Lembro que eram "9 coisas" que, logo, faziam com que o Lucas fosse 9 vezes mais que um Lucas qualquer, 9 vezes melhor que um cara comum. 
   É tão louco como nós, adultos, tendemos a nos reduzir ao nada, tanto que nem mesmo meu namorado conseguiu lembrar ao certo quais eram as tais "9 coisas" que ele próprio é, segundo o olhar atento e curioso do meu irmão.
   Esvaziamos de sentido e de valor o que fazemos e o que somos. Reduzimos ao nada, ao comum, ao "pouco importante". 
   Projetamos muitos nomes para nós, mas sempre, veja que irônico, com o "futuro" vindo antes: "futura psicóloga", "futuro cineasta". Abandonamos o que somos hoje e os nomes que carregamos agora, nesse momento. 
   Para meu irmão eu sou estudante de psicologia e falo inglês, espanhol e italiano, além do bom e velho português, claro. Sou bailarina de flamenco e atriz. Ah, se faço poemas, sou poeta. É mágico, me sinto a Nathalie Portman ou coisa assim! 
   Convenhamos, se de fato fazemos tudo isso, por que não dar os nomes aos bois? Por que é tão difícil nos apropriarmos do que fazemos, mesmo que seja pouco ou pareça bobo?
   Somos e vamos ser sempre um projeto futuro de algo muito melhor do que o presente, fato. E quero ser, um dia, muito boa no que escolhi fazer, em  pelo menos uma dessas coisas todas aí... Mas bem ou mal, boa ou não, eu sou, você é, nós somos isso aqui agora! São essas "coisas todas" que criança vê e adulto não que nos diferenciam uns dos outros, que nos tornam seres singulares e interessantes. 
   Não, não sou escritora, e nem leitora de livros de auto-ajuda, antes que o papo fique chato e te leve a pensar algo do tipo. Voltemos lá na simplicidade e praticidade das crianças:
   Quer demonstração maior de que adulto é imbecil e complica tudo? 
   Ontem houve uma festa de casamento de uma prima, ocasião em que pude apresentar meu namorado, o referido Lucas, aos meus pais e aos meus familiares. Na mesa com meus pais e meu irmão, dividíamos uma porção de petiscos: batata, mandioquinha, torresmo... Minha mãe fisgou a última linguicinha do prato e a levou em direção ao Lucas, enquanto meu irmão também salivava por ela! rsrs 
   Foi quando eu disse ao garoto: "Viiiixi, perdeu seu lugar na família, né?!" (Eu aprendi que genro é tratado como filho, mas um filho que não é irmão da filha que é namorada... deu pra entender isso?) 
   Ok, voltemos ao diálogo: "Viiiixi, perdeu seu lugar na família, né?!" 
   "É, perdi minha linguiça!"
   Fica aqui a minha cara de imbecil. Ah, e a certeza de que quando crescemos complicamos tudo, damos significados demais a coisa de menos. Uma linguiça às vezes é só uma linguiça como um cachimbo às vezes é só um cachimbo, já dizia o tio Freud.

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