quinta-feira, 6 de setembro de 2012


Eu sou o tipo de pessoa que colhe flores com os ouvidos. 
Há quem exale o perfume das flores pela pele.
De cuja boca caem as pétalas mais perfumadas.
Dos olhos se extrai o mel.
A doçura do ser é dita pelo olhar.

Quando o outro fala comigo eu me sinto feliz, porque é, de certa forma, um investimento que é feito em mim. 
E eu, além de ouvir, tentar entender e ajudar, também me identifico com o que o outro fala, me apego a pontos que vão servindo para mim, vou reorganizando coisas aqui dentro. 
Quando ouvimos o outro, sempre bebemos daquelas palavras que melhor nos nutrem. 
Tomamos para nós aquilo que nos desperta, acrescenta, e talvez, somente naquilo é que vamos nos atentar. 
Nós somos narcisistas nesse aspecto, todos nós agimos assim.
Todo afeto tem sua parcela de narcisismo, não conseguimos nunca nos livrar de uma porção narcísica primordial, que é a primeira forma de afeto que conhecemos. 
Mas isso não quer dizer que não possamos reconhecer a alteridade e investir afeto no outro como outro, mesmo com ganhos secundários. 

Gosto de ouvir as pessoas, tão mais que falar. 
Mas, pensando o que acabo de dizer, não falar seria um ato de egoísmo, muito maior que não ouvir. 
Quando eu falo eu faço uma doação.
Uma doação para que o outro se deleite com o que eu digo dessa mesma forma narcísica.
Mais narcisista ainda seria se eu apenas ouvisse.

Encontrei uma dessas pessoas que cultivam jardins em sua alma. 
Uma pessoa com quem entendi o significado de vários afetos e de vários significantes, como parceria, amizade, amor, lealdade...
Junto a quem aprendi que Diálogo não é uma disputa de egos, de atenção, de quem tem mais a dizer, a lamentar, como muitas vezes me pareceu. E muito menos devo me sentir culpada se por acaso falar demais sobre mim e ouvir de menos. 
Aprendi porque mantive os ouvidos bem abertos, mas, principalmente, o coração aberto.
Um diálogo verdadeiro é um bom encontro, uma relação de troca, de dar e receber. É um fluxo, onde há reconhecimento, identificação e modificação. 

Para minha querida N.N.

2 comentários:

  1. Quando duas almas se encontram, se cruzam, e no diálogo especular (sempre) se reconhecem.

    O fluxo é raro, como se fosse uma ciranda, roda, dança, dar, receber, plantar, colher, plantar. Afetos que, de imediato, alimentam a alma são tesouros, são portas para nossos próprios jardins secretos.

    Te amo, Xu.

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  2. Essa imagem da ciranda me remete a algo sem começo nem fim, a roda do infinito. Amém, que assim seja!

    Te amo, mesmo!
    :*

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