domingo, 4 de março de 2012



Foto: Lissy Elle.
Sinto-me sozinha. Eu não tenho nada, nem ninguém, em lugar nenhum! É como se o mais profundo do meu ser respirasse à indiferença, abandono, solidão, a mais pura solidão. É como se ele não reconhecesse ninguém, ou pelo menos não registrasse ninguém aqui dentro de mim como sendo próximo, confiável, amigável, sincero, alguém que eu pudesse chamar de "meu..." seja lá o que for.
Eu não sinto verdade nas pessoas. Tudo me parece impessoal demais, eu não sinto afeto, eu não sinto amizade, eu não sinto honestidade. Eu não entendo, não sei por quê, mas não consigo sentir. Muitas das vezes eu sinto apenas um buraco, esse grande espaço oco e vazio entre eu e elas. Dói. Não há ninguém nem nada aqui dentro, é vazio, é feio e doloroso. O vazio sufoca como uma asma, é quase impossível respirar!
No vazio eu ouço o meu silêncio e o meu silêncio me diz coisas horríveis, sobre como meus afetos não se afetam e não deveriam me afetar... Sobre como ninguém é de verdade, ninguém está realmente por perto, acessível. Sobre como laços se desmancham com apenas um sopro, simplesmente porque eles nunca estiveram verdadeiramente atados. Sobre como as relações são escorregadias, porque nunca há nada de sólido no caminho que as faça firmar. Sobre como é quase uma bobagem ser sincero com quem você não se importa, e por isso, é tão difícil sentir sinceridade vindo de fora. 
Meu pensamento é um rebanho de ovelhas agitadas, raivosas, barulhentas e desordenadas. Para dormir, é preciso mais que contar ovelhas, é preciso recolher as desgarradas, é preciso acalmá-las. Meu pensamento é rebanho de ovelhas negras, e amassando o rosto contra a capa dura do caderno, várias vezes eu dormi, tentando traduzir e transcrever aquele som irritante, incômodo, dos berros escandalosos dessas ovelhas.
Talvez eu não entenda o canto das ovelhas, mas o corpo entende, e responde. Palpitações, suspiros e uma espécie de dor, como um soco na boca do estômago e um grande aperto no peito. Essa dor chega tão de repente e logo se impõe! Dói, como facas sendo colocadas lentamente no meu coração, me fazendo contrair e distender o corpo involuntariamente, provocando impulsos quase incontroláveis de socar, morder, arranhar, rasgar, destruir...
Esses  sentimentos e essas emoções, que ainda é tão difícil chamar de "meus", dessa forma tão humana como são, me golpeiam, me esbofetam a cara todos os dias...
Tenho tido menos fé nas pessoas, faz tanto tempo que...  Menos confiança na solidez de um relacionamento, de uma amizade. 
Às vezes tenho aquela pontinha de necessidade de retomar "laços" do passado que poderiam ter dado certo se eu tivesse investido mais... Mas o futuro me parece incerto demais pra que eu projete qualquer coisa do presente, e mesmo do passado, nele. Retomar "laços" passados me parece um esforço menor que fazer "laços" novos, mas de qualquer forma, tudo me causa desconfiança, insegurança, desânimo e desistência.
Amizade, do jeito como eu imaginava, é mais um daqueles mitos que ficam fofinhos nas historinhas infantis. As pessoas têm vida útil, prestam por um tempo. Amizade também têm prazo de validade, e costuma ser curto, vence quando você fica enjoado! Nenhum afeto é pra sempre, e eu ainda fico me perguntando: por que depositar a minha fé em alguém que vai embora? 
Agora eu já não tenho expectativa, eu não espero por ninguém. Investir mais...? Entendo que só investindo em mim mesma vou ter garantido o retorno do tamanho exato do meu investimento. É preciso parar de investir minha energia em algo que está fora de mim e que não vai poder me dar nenhum retorno. Preciso cuidar de mim, investir em mim, e é só. 
Mas ainda assim, ninguém deseja estar sozinho. Eu não quero estar sozinha. A grande questão é que existe uma diferença entre ESTAR sozinho e SER sozinho. É de SER sozinho que eu estou falando! Você só sente de verdade uma perda se algum dia você realmente teve alguém. É nesse TER ALGUÉM que eu não acredito mais. É nesse TER ALGUÉM que eu perdi a fé. 
Nem sempre a questão é perder para aprender a dar valor...
Trata-se de dar valor demais e ter que aprender a perder, a não ter. 
Aprender a ser sozinho, aprender a respirar no vazio.


Um comentário: