Eu fico pensando...
por que há essa cisão entre o sagrado e o profano, entre o sórdido e o
imaculado na nossa época...? Ou se é santa ou puta, o meio termo é proibido. E,
sei lá, talvez para se chegar nesse pretenso meio termo, há que se passar pelos
extremos antes mesmo. Aí, tem gente que vai aos extremos, mas por lá fica, não
retorna, não transcende, não assimila...
Uma das coisas que
mais me entristece nas relações é que essa dicotomia entre afeto x sexualidade
parece uma barreira, é tão difícil vivenciar os dois lados com uma pessoa só, é
tão difícil integrar esses dois lados numa pessoa só, na gente mesma. A dor da
separação não é apenas do outro, talvez seja mais radical, seja dessa separação
do afeto e do desejo, não sei...
Fiquei pensativa...
Meu conflito é
grande demais: Eu quero o puro, o romântico, o belo, o seguro, o amor
correspondido. Mas eu amo o sórdido, inescrupuloso, o incerto, o risco, o
desprendido...
Eu amo demais o
mundo, a vida, a sexualidade... amo tanto que nem cabe em mim, é uma vontade de
viver, sentir, amar que nem se encaixa nos limites do meu corpo!
Bem, nem sei por que
estou escrevendo tudo isso, acho que quis mesmo desabafar, me
"desnudar" para alguma opinião, crítica, reflexão... que me são
sempre importantes.
O que escrevo aqui
não se trata de culpa ou arrependimento. Eu não me submeto, eu me
meto, porque bem quero. Não estou sob, "sub" a nada nem
a ninguém. Eu não me submeto a situações potencialmente adversas,
eu me sujeito a elas. Existe ali um sujeito que atua, que faz as
escolhas e pode entrar e sair de cena quando bem entender.
Eu sei o que eu
faço, eu sei bem o que eu quero e eu sempre conheço o chão que eu piso. Eu
tenho a escolha, eu posso não pisar se eu não quiser, e não causaria
sofrimento. Ninguém pode quebrar meu coração porque ele já veio partido e eu
aprendi a lidar com isso. Nada pode ser tirado de mim porque nada me pertence,
eu não sou dona de nada, eu tenho o nada.
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