Foto: Lissy Elle
O tempo inteiro fico irritada por me deparar o quanto o passado não consegue ficar quieto no seu espaço de tempo e fica invadindo o presente pelas rachaduras, pelas fendas que não ficaram muito bem tapadas quando me incumbi de não deixar nenhuma brecha pra que nada, ninguém e nenhuma lembrança voltasse. As pessoas que não existem mais voltam feito fantasmas, ficam rondando e invadindo meus sonhos à noite. Fazem barulhos assustadores e insuportáveis, e não, não são vultos, as imagens são nítidas demais, táteis demais, audíveis demais...
O tempo não tem feito seu trabalho com excelência, tudo passa na minha cabeça como se tivesse ocorrido ontem, e não foi.
Quero matar as pessoas e as lembranças outras e tantas outras vezes quantas forem necessárias, não me importo, embora saiba que vão voltar... e eu sei porque voltam, eu sei porque esses fantasmas do meu passado estão votando: eu os chamo.
Eu os chamo porque não disse tudo lá atrás, porque ainda tem muita coisa que quero dizer a eles, verdades minhas que deveriam ter sido ditas e que hoje arranham a minha garganta, me sufocam...
Eu sei, eu não preciso falar tudo. Sempre vai ter uma ou outra coisa que ficou por ser dita. Eu só vou me aquietar e deixar o passado ir, não quando eu falar, mas quando eu verdadeiramente souber que não é preciso dizer tudo, que é preciso deixar as pessoas irem sem entenderem metade do que se passou, metade do que se sentiu.
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